Juízes
(Jz)
Escritor: Desconhecido
Lugar: da Escrita: Israel
Data: Entre 1050 e 1000 a.C.
Eis uma página da história de Israel cheia de ação, que mostra o povo
ora envolvido com a religião demoníaca e as conseqüências desastrosas,
ora arrependido e misericordiosamente libertado por Deus, por meio de
juízes divinamente nomeados. As poderosas obras de Otniel, Eúde, Sangar
e os outros juízes que os seguiram inspiram fé. Conforme disse o
escritor de Hebreus: “O tempo me faltaria se prosseguisse relatando
sobre Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, . . . os quais, pela fé,
derrotaram reinos, puseram em execução a justiça, . . . dum estado fraco
foram feitos poderosos, tornaram-se valentes na guerra, desbarataram os
exércitos de estrangeiros.” (Heb. 11:32-34) Para completar a lista dos
12 juízes fiéis desse período, mencionamos também Tola, Jair, Ibsã, Elom
e Abdom. (Samuel geralmente não é contado entre os juízes.) Deus
combatia pelos juízes, e Seu Espírito os envolvia ao passo que
executavam seus atos de bravura. Eles atribuíam todo o crédito e toda a
glória ao seu Deus.
Na Septuaginta, o livro é chamado de Kri·taí, e na Bíblia hebraica é Sho·fetím,
que, traduzido, é “Juízes”. Sho·fetím deriva-se do verbo sha·fát, que
significa “julgar, vindicar, punir, governar”, o que expressa bem a
função destes homens nomeados teocraticamente por “Deus, o Juiz de
todos”. (Heb. 12:23) Deus suscitou esses homens em determinadas ocasiões
para libertar seu povo do jugo estrangeiro.
Que período abrange o livro de Juízes? Pode-se calcular isto
tomando por base 1 Reis 6:1, que diz que Salomão começou a edificar a
casa de Deus no quarto ano de seu reinado, que era também o
“quadringentésimo octogésimo ano depois da saída dos filhos de Israel da
terra do Egito”. (“Quadringentésimo octogésimo” é um número ordinal que
representa 479 anos inteiros.) Os conhecidos períodos incluídos nos 479
anos são: 40 anos no ermo, sob a liderança de Moisés (Deut. 8:2), 40
anos do reinado de Saul (Atos 13:21), 40 anos do reinado de Davi (2 Sam.
5:4, 5) e os 3 primeiros anos inteiros do reinado de Salomão. Subtraindo
este total de 123 anos dos 479 anos, de 1 Reis 6:1, obtemos o resultado
de 356 anos, que abrangem o período entre a entrada de Israel em Canaã e
o início do reinado de Saul. Os eventos relatados no livro de Juízes,
que ocorreram em grande parte desde a morte de Josué até o tempo de
Samuel, abrangem cerca de 330 anos deste período de 356 anos.
A autenticidade de Juízes é incontestável. Os judeus sempre o
aceitaram como parte do cânon da Bíblia. Tanto os escritores das
Escrituras Hebraicas como os das Gregas Cristãs fazem alusão a esse
relato, como em Salmo 83:9-18; Isaías 9:4; 10:26 e Hebreus 11:32-34.
Usando de toda a franqueza, o livro não esconde as faltas e as
reincidências por parte de Israel, exaltando ao mesmo tempo a infinita
benevolência de Deus. É o Senhor Deus , e não um mero juiz humano, que é
glorificado como Libertador de Israel.
Ademais, as descobertas arqueológicas confirmam a genuinidade de Juízes.
Bem surpreendentes são as descobertas arqueológicas sobre a natureza da
religião de Baal praticada pelos cananeus. Fora as referências na
Bíblia, pouco se sabia sobre o baalismo até 1929, quando se escavou a
antiga cidade cananéia de Ugarit (a moderna Ras Xamra, na costa síria,
defronte da ponta nordeste da ilha de Chipre). Foi revelado aqui que a
religião de Baal se caracterizava pelo materialismo, extremo
nacionalismo e adoração do sexo. Cada cidade cananéia tinha
evidentemente seu santuário de Baal, bem como capelas conhecidas como os
altos. Dentro dessas capelas, havia provavelmente imagens de Baal, e,
perto dos altares, do lado de fora, encontravam-se colunas de pedra
talvez símbolos fálicos de Baal. Detestáveis sacrifícios humanos
manchavam de sangue estes santuários. Quando os israelitas ficaram
contaminados com o baalismo, ofereceram da mesma forma seus filhos e
suas filhas. (Jer. 32:35) Havia um poste sagrado que representava a mãe
de Baal, Axerá. A deusa da fertilidade, Astorete, esposa de Baal, era
adorada por meio de licenciosos ritos sexuais, sendo mantidos tanto
homens como mulheres como “consagrados” prostitutos do templo. Não é de
admirar que Deus ordenasse o extermínio do baalismo e de seus aderentes
bestiais. “Teu olho não deve ter dó deles; e não deves servir aos seus
deuses.” Deut. 7:16.
CONTEÚDO DE JUÍZES
O livro se divide logicamente em três partes. Os dois capítulos 1 e 2
iniciais descrevem as condições que existiam naquela época em Israel. Os
capítulos 3 a 16 falam das libertações por parte dos 12 juízes. Os
capítulos 17 a 21 descrevem, em seguida, incidentes das lutas internas
em Israel.
Condições em Israel no tempo dos juízes (1:1-2:23). As tribos de
Israel são descritas à medida que se dispersam para se estabelecerem nos
seus respectivos territórios designados. Mas, em vez de expulsarem
totalmente os cananeus, os israelitas submetem muitos desses a trabalhos
forçados, permitindo que residam entre eles. Em conseqüência disso, o
anjo de Deus declara: “Pelo que também eu disse: Não os expelirei de
diante de vós; antes, estarão às vossas costas, e os seus deuses vos
serão por laço.” (2:3) Assim, quando surge uma nova geração que não
conhece a Deus nem as obras realizadas por ele, o povo logo abandona a
Deus para servir aos Baalins e a outros deuses. Visto que a mão de Deus
está contra ele para calamidade, vem a estar em “sério aperto”. Em
virtude de sua obstinação e recusa de ouvir mesmo aos juízes, Deus não
expulsa nenhuma das nações que ele deixou para provar Israel. Este fundo
histórico nos será de ajuda para entendermos os eventos subseqüentes.
2:15.
O juiz Otniel (3:1-11). Angustiados por causa de seu cativeiro às
mãos dos cananeus, os filhos de Israel começam a invocar a Deus em busca
de socorro. Ele suscita primeiro a Otniel qual juiz. Julga Otniel
mediante poder e sabedoria humana? Não, pois lemos: “Então veio sobre
ele o Espírito de Deus”, para subjugar os inimigos de Israel. “Depois o
país teve sossego por quarenta anos.” 3:10, 11.
O juiz Eúde (3:12-30). Depois de os filhos de Israel terem sido
subjugados por 18 anos a Eglom, rei de Moabe, clamam a Deus que ouve
outra vez as suas súplicas e suscita o juiz Eúde. Tendo conseguido uma
audiência particular com o rei, o canhoto Eúde saca de sua espada
caseira escondida na sua vestimenta e crava-a profundamente no ventre
gordo de Eglom, matando-o. Israel se junta imediatamente a Eúde na luta
contra Moabe, e o país goza outra vez do descanso que Deus lhe concede,
por 80 anos.
O juiz Sangar (3:31). Sangar salva a Israel, abatendo 600
filisteus. Que a vitória se deve ao poder de Deus, indica-se mediante a
arma que emprega uma simples aguilhada de gado.
O juiz Baraque (4:1-5:31). Depois, Israel cai sob o jugo do rei
cananeu, Jabim, e de Sísera, seu chefe de exército, que se jacta de seus
900 carros munidos de foices de ferro. Israel clama de novo a Deus que o
escuta e suscita o juiz Baraque, eficazmente ajudado pela profetisa
Débora. Para que Baraque e seu exército não tenham motivo para se
jactar, Débora dá a conhecer que a batalha será travada por orientação
de Deus, e passa a profetizar: “Será à mão de uma mulher que Deus
venderá a Sísera.” (4:9) Baraque convoca os homens de Naftali e de
Zebulão ao monte Tabor. Seu exército de 10.000 homens desce então ao
combate. Sua firme fé lhes traz a vitória. ‘Deus começa a lançar em
confusão tanto a Sísera como a todos os seus carros de guerra e todo o
acampamento’, esmagando-os por uma inundação súbita no vale do Quisom.
“Não restou nem sequer um.” (4:15, 16) Jael, esposa de Héber, o queneu,
para cuja tenda Sísera foge, leva ao clímax a matança, pregando contra o
chão a cabeça de Sísera com uma estaca de tenda. “Assim subjugou Deus .
. . a Jabim.” (4:23) Débora e Baraque entoam um cântico para a glória do
poder invencível de Deus, que fez com que até mesmo as estrelas lutassem
desde suas órbitas contra Sísera. É deveras ocasião para ‘bendizer a
Deus’! (5:2) Seguem-se 40 anos de paz.
O juiz Gideão (6:1-9:57). De novo fazem os filhos de Israel o que
é mau, e o país é devastado pelos midianitas invasores. Por intermédio
de seu anjo, Deus suscita o juiz Gideão, e o próprio Deus o assegura,
com as palavras: “Mostrarei estar contigo.” (6:16) O primeiro ato de
coragem de Gideão consiste em destruir o altar de Baal que se acha na
sua própria cidade. Os exércitos combinados do inimigo cruzam então em
direção de Jezreel, mas ‘o Espírito de Deus envolve Gideão’ ao passo que
este convoca Israel para a batalha. (6:34) Mediante a prova de expor um
velo de lã ao orvalho no chão da eira, Gideão recebe duplo sinal de que
Deus está com ele.
Deus diz a Gideão que seu exército, composto de 32.000 homens, é grande
demais, e que o tamanho poderá dar motivo para jactância humana sobre a
vitória. Primeiro, os temerosos são enviados para casa, restando apenas
10.000. (Juí. 7:3; Deut. 20:8) Depois, mediante a prova da maneira de
beber água, todos, exceto 300 alertas e vigilantes, são eliminados.
Gideão faz reconhecimento do acampamento midianita durante a noite e de
novo é assegurado do sucesso ao ouvir um homem interpretar um sonho como
significando: “isto não é senão a espada de Gideão . . . O verdadeiro
Deus lhe entregou na mão a Midiã e a todo o acampamento”. (Juí. 7:14)
Gideão presta adoração a Deus e divide seus homens em três grupos em
volta do acampamento midianita. O silêncio da noite é subitamente
rompido: os 300 homens de Gideão tocam as buzinas, quebram os grandes
jarros, acendem as tochas e gritam: “A espada de Deus e de Gideão!”
(7:20) O acampamento do inimigo vira um pandemônio. Os midianitas lutam
uns contra os outros e põem-se em fuga. Mas Israel os persegue, mata-os,
abate também a seus príncipes. Os israelitas pedem então que Gideão
domine sobre eles, mas Gideão recusa, dizendo: “Deus é quem dominará
sobre vós.” (8:23) Contudo, do despojo da guerra ele faz um éfode, que
chega a ser mais tarde objeto de grande veneração, tornando-se assim um
laço para Gideão e sua família. O país tem descanso por 40 anos durante
o tempo em que Gideão é juiz.
Depois da morte de Gideão, Abimeleque, um de seus filhos, nascido de uma
concubina sua, usurpa o poder e assassina seus 70 meios-irmãos. Jotão, o
filho mais novo de Gideão, é o único que escapa, e, do cume do monte
Gerizim, ele profere uma maldição sobre Abimeleque. Nessa parábola das
árvores, ele assemelha a “realeza” de Abimeleque a um modesto
espinheiro. Abimeleque vê-se logo envolvido numa luta interna em Siquém,
onde sofre a humilhação de ser morto por uma mulher que lhe atira, do
alto da torre de Tebes, uma mó certeira, esmagando-lhe o crânio. Juí.
9:53; 2 Sam. 11:21.
Os juízes Tola e Jair (10:1-5). Estes são os próximos a efetuar
libertações pelo poder de Deus, julgando por 23 e 22 anos,
respectivamente.
O juiz Jefté (10:6-12:7). Visto que Israel persiste em voltar-se
para a idolatria, a ira de Deus se acende de novo contra a nação. O povo
sofre agora opressão por parte dos amonitas e dos filisteus. Jefté é
chamado de volta do exílio para liderar Israel no combate. Mas quem
realmente é o juiz nessa controvérsia? As próprias palavras de Jefté
fornecem a resposta: “Julgue hoje Deus, o Juiz, entre os filhos de
Israel e os filhos de Amom.” (11:27) Ao passo que o Espírito de Deus
opera nele, Jefté faz um voto de que, ao retornar de Amom em paz,
devotará a Deus a primeira pessoa que de sua casa sair ao seu encontro.
Jefté subjuga Amom com grande matança. Ao voltar para casa, em Mispá, é
a sua própria filha que lhe sai primeiro ao encontro, correndo, com
alegria pela vitória de Deus. Jefté cumpre o seu voto não, não mediante
sacrifício humano, pagão, segundo os ritos do baalismo, mas devotando
esta filha única ao serviço exclusivo na casa de Deus, para Seu louvor.
Os efraimitas protestam então que não foram convocados para lutar contra
Amom, e ameaçam a Jefté, que se vê obrigado a repeli-los. Ao todo,
42.000 efraimitas são mortos, muitos deles nos vaus do Jordão, onde são
reconhecidos por não conseguirem pronunciar corretamente a senha “Xibolete”.
Jefté continua a julgar Israel por seis anos. 12:6.
Os juízes Ibsã, Elom e Abdom (12:8-15). Embora se fale pouco
concernente a estes, os períodos em que julgaram são declarados como
sendo de sete, dez e oito anos, respectivamente.
O juiz Sansão (13:1-16:31). Mais uma vez Israel cai sob o jugo
dos filisteus. Desta vez, Deus suscita a Sansão como juiz. Desde seu
nascimento, seus pais o devotam como nazireu, e isto requer que não se
lhe passe nunca a navalha sobre a cabeça. Quando cresce, Deus o abençoa,
e, ‘com o tempo, o Espírito de Deus principia a impeli-lo’. (13:25) O
segredo da sua força não está em músculos humanos, mas no poder dado por
Deus. É quando ‘o Espírito de Deus se torna ativo nele’ que recebe o
poder de matar um leão sem ter nada na mão, e mais tarde de revidar a
traição filistéia, abatendo 30 dentre eles. (14:6, 19) Visto que os
filisteus continuam a agir traiçoeiramente em conexão com o casamento
que Sansão está para contrair com certa moça filistéia, ele toma 300
raposas e, virando-as cauda contra cauda, coloca tochas entre as caudas
e as envia para incendiarem os campos de cereais, os vinhedos e os
olivais dos filisteus. Daí, efetua uma grande matança de filisteus,
“empilhando pernas sobre coxas”. (15:8) Os filisteus persuadem seus
co-israelitas, homens de Judá, a amarrarem Sansão e o entregarem a eles,
mas, de novo ‘o Espírito de Deus se torna ativo nele’, e seus grilhões
se derretem, por assim dizer, caindo de suas mãos. Sansão fere
mortalmente mil desses filisteus “um montão, dois montões!” (15:14-16)
Que arma de destruição usa ele? A queixada fresca dum jumento. Deus
revigora seu servo exausto por fazer surgir miraculosamente uma fonte
donde jorra água no local da batalha.
Depois, Sansão pernoita em Gaza, na casa de uma prostituta; os filisteus
o cercam em emboscada. Mas, o Espírito de Deus revela estar novamente
com ele ao levantar-se à meia-noite e arrancar os batentes da porta da
cidade com seus postes, carregando-os de lá para o cume dum monte,
defronte de Hébron. Depois disso, ele se enamora da pérfida Dalila.
Sendo instrumento fácil nas mãos dos filisteus, ela o atormenta até que
ele revela que a sua devoção a Deus como nazireu, simbolizada pelos seus
cabelos compridos, é a verdadeira fonte de sua grande força. Enquanto
ele está dormindo, ela manda que se lhe cortem os cabelos. Desta vez, é
em vão que ele acorda para ir travar o combate, pois “foi Deus quem se
retirara dele”. (16:20) Os filisteus o pegam, vazam-lhe os olhos e o
fazem virar a mó na prisão, como escravo. Quando chega a época da
celebração de uma grande festa em honra de Dagom, deus dos filisteus,
estes mandam tirar Sansão de lá para lhes servir de espetáculo. Não
dando importância ao fato de que seu cabelo crescia outra vez em
abundância, permitem que se coloque entre as duas grandes colunas da
casa usada para adoração de Dagom. Sansão invoca a Deus: “Senhor Deus,
por favor, lembra-te de mim e fortalece-me só esta vez.” E Deus
lembra-se deveras dele. Segurando as colunas, Sansão ‘se encurva com
poder’ com o poder de Deus ‘e a casa cai, de modo que os mortos, que
entrega à morte ao ele mesmo morrer, vêm a ser mais do que os que
entregara à morte durante a sua vida’. 16:28-30.
Chegamos então aos capítulos 17 a 21, que descrevem algumas das lutas
internas que infelizmente desgastam a Israel nessa época. Esses eventos
ocorrem cedo no período dos juízes, conforme se indica pela menção de
Jonatã e Finéias, netos de Moisés e de Arão, provando que estão ainda
vivos.
Micá e os danitas (17:1-18:31). Micá, um efraimita, estabelece
seu próprio sistema religioso independente, a idólatra “casa de deuses”,
com tudo, imagem esculpida e um sacerdote levita. (17:5) Homens da tribo
de Dã passam por lá, a caminho da posse de sua herança no norte. Eles
saqueiam Micá, tirando-lhe os acessórios religiosos e o sacerdote, e
avançam para o extremo norte, a fim de destruírem a insuspeitosa cidade
de Laís. Em seu lugar, edificam a sua própria cidade de Dã, e colocam
ali a imagem esculpida que pertencera a Micá. Assim, seguem a religião
de sua própria escolha, independente, durante todos os dias em que a
casa da verdadeira adoração de Deus continua em Silo.
O pecado de Benjamim em Gibeá (19:1-21:25). O acontecimento
escrito a seguir faz Oséias dizer posteriormente estas palavras:
“Pecaste desde os dias de Gibeá, ó Israel.” (Osé. 10:9) Certo levita de
Efraim, voltando para casa com sua concubina, passa a noite na casa de
um homem idoso, em Gibeá de Benjamim. Homens imprestáveis dessa cidade
cercam a casa, exigindo ter relações sexuais com o levita. Eles aceitam,
entretanto, sua concubina em seu lugar, e abusam dela a noite inteira.
Pela manhã, ela é encontrada morta na soleira da porta. O levita leva o
cadáver para casa, recorta-o em 12 pedaços e envia estes a todo o
Israel. As 12 tribos são destarte postas à prova. Castigarão a Gibeá,
removendo assim do meio de Israel a imoralidade? Os benjamitas fecham os
olhos a esse crime bestial. As outras tribos se congregam perante Deus,
em Mispá, onde resolvem decidir por sortes quem lutará contra Benjamim,
em Gibeá. Depois de duas derrotas sanguinárias, as outras tribos levam a
vitória, colocando uma emboscada, e praticamente aniquilam a tribo de
Benjamim, escapando apenas 600 homens que se refugiam no rochedo de
Rimom. Mais tarde, Israel lastima que uma tribo foi cortada. Eles
procuram então um meio de encontrar esposas para os benjamitas
sobreviventes dentre as filhas de Jabes-Gileade e de Silo. Com isto
termina a narrativa de lutas e intrigas em Israel. Conforme repetem as
palavras concludentes de Juízes: “Naqueles dias não havia rei em Israel.
Cada um costumava fazer o que era direito aos seus próprios olhos.” Juí.
21:25.
POR QUE É PROVEITOSO
Longe de ser apenas uma narrativa de lutas e de derramamento de sangue,
o livro de Juízes exalta a Deus como o grande Libertador de seu povo.
Mostra como ele expressou sua misericórdia e longanimidade incomparáveis
para com o povo chamado pelo Seu nome, toda vez que recorria a ele com
coração arrependido. O livro de Juízes é de grande proveito em defender
decididamente a adoração de Deus e em seus poderosos avisos acerca da
tolice da religião demoníaca, do interconfessionalismo e das associações
imorais. A condenação severa que Deus pronunciou contra a adoração de
Baal deve impelir-nos a nos resguardar dos seus equivalentes modernos: o
materialismo, o nacionalismo e a imoralidade sexual. 2:11-18.
Um exame da destemida e corajosa fé dos juízes deve inspirar em nosso
coração uma fé similar. Não é de admirar que eles sejam mencionados em
Hebreus 11:32-34 em termos tão calorosos de aprovação! Lutaram para
santificar o nome de Deus, mas não na sua própria força. Conheciam a
fonte de seu poder, o Espírito de Deus, e o reconheciam com humildade.
Da mesma forma hoje, podemos tomar “a espada do Espírito”, a Palavra de
Deus, certos de que Deus nos dará forças, assim como deu a Baraque,
Gideão, Jefté, Sansão e muitos outros. Sim, com a ajuda do Espírito de
Deus, podemos ser tão fortes, em sentido espiritual, como Sansão era em
sentido físico, para vencermos poderosos obstáculos, se tão-somente
orarmos a Deus e confiarmos nele. Efé. 6:17, 18; Juí. 16:28.
Em dois lugares o profeta Isaías se refere ao livro de Juízes, a fim de
mostrar que Deus, sem falta, esmagará o jugo que Seus inimigos colocam
sobre seu povo, assim como fez nos dias de Midiã. (Isa. 9:4; 10:26) Isto
nos faz lembrar também do cântico de Débora e de Baraque, que termina
com a oração fervorosa: “Pereçam assim todos os teus inimigos, ó Deus, e
sejam os que te amam como quando o sol sai na sua potência.” (Juí. 5:31)
E quem são os que amam a Deus? O próprio Jesus Cristo indica que são os
herdeiros do Reino, empregando uma expressão semelhante em Mateus 13:43:
“Naquele tempo, os justos brilharão tão claramente como o sol, no reino
de seu Pai.” De modo que o livro de Juízes aponta para o tempo em que o
justo Juiz e Semente do Reino, Jesus, exercerá seu poder. Por intermédio
dele, Deus glorificará e santificará Seu nome, em harmonia com a oração
do salmista concernente aos inimigos de Deus: “Faze-lhes como a Midiã,
como a Sísera, como a Jabim no vale da torrente de Quisom . . . para que
as pessoas saibam que tu, Deus de Israel, somente tu és o Altíssimo
sobre toda a terra.” Sal. 83:9, 18; Juí. 5:20, 21.