Ester
(Et)
Escritor: Desconhecido
Lugares da Escrita: Susã, Elão
Escrita Completada: c. 465 a.C.
Tempo Abrangido: 483-c. 475 a.C.
Tema: O Cuidado Providencial de Deus
Depois da derrota do império babilônico e sua conquista pelos persas em
539 a.C., a sede do governo dos exilados passou à Pérsia. A capital Susã,
é o palco da história de Ester, durante o reinado de do rei Assuero (seu
nome hebraico, também chamado Xerxes I (seu nome grego) ou Khshyarshan
(seu nome persa), que reinou entre 486-465 a.C.. O livro de Ester abarca
os anos 483-473 do reinado de Assueiro.
De maneira simples, eis aqui a história de Assuero, rei da Pérsia, tido
por alguns como Xerxes I, cuja esposa desobediente, Vasti, é substituída
pela judia Ester, prima de Mordecai. O agagita Hamã trama a morte de
Mordecai e de todos os judeus, mas é enforcado em sua própria estaca, ao
passo que Mordecai é promovido ao cargo de primeiro-ministro e os judeus
são libertados.
Naturalmente, há os que dizem que o livro de Ester não é nem inspirado
nem proveitoso, mas simplesmente uma bela lenda. Baseiam sua afirmação
na ausência do nome de Deus. Embora seja verdade que Deus não é
mencionado diretamente, parece haver no texto hebraico quatro casos
distintos de acrósticos do Tetragrama, as letras iniciais de quatro
palavras sucessivas que formam YHWH. Estas iniciais são destacadas de
modo especial em pelo menos três manuscritos hebraicos antigos, e são
também marcadas na Massorá com letras vermelhas.
No decorrer do registro todo há forte evidência de que Mordecai tanto
aceitava a lei de Deus como obedecia a ela. Negou-se a curvar-se para
honrar um homem que provavelmente era amalequita; Deus determinara o
extermínio dos amalequitas. (Est. 3:1, 5; Deut. 25:19; 1 Sam. 15:3) A
expressão de Mordecai em Ester 4:14 indica que aguardava uma libertação
da parte de Deus e que tinha fé na direção divina do inteiro curso dos
eventos. O jejum de Ester, junto com a ação similar dos demais judeus,
durante três dias antes de esta entrar perante o rei, indica confiança
em Deus. (Est. 4:16) Que Deus manobrou os eventos é indicado por Ester
achar favor aos olhos de Hegai, o guardião das mulheres, e pela insônia
do rei na noite em que pediu para ver os registros oficiais e descobriu
que Mordecai não fora honrado pelo seu bom feito no passado. (Est. 2:8,
9; 6:1-3; compare com Provérbios 21:1.) Há, sem dúvida, referência a
orações nas palavras “os assuntos dos jejuns e de seu clamor por
socorro”. — Est. 9:31.
Muitos fatos comprovam o registro como autêntico e fatual. Era aceito
pelo povo judeu, que chamava o livro simplesmente de o Meghil·láh, que
significa “rolo; rolo escrito”. Parece ter sido incluído no cânon
hebraico por Esdras, que certamente teria rejeitado uma fábula. Os
judeus guardam até hoje a festa de Purim, ou Sortes, celebrando a grande
libertação do tempo de Ester. O livro apresenta modos e costumes persas
de forma realística, e em harmonia com os fatos conhecidos da história e
as descobertas arqueológicas. Por exemplo, o livro de Ester descreve com
exatidão o modo de os persas honrarem um homem. (6:8) Escavações
arqueológicas revelaram que as descrições do palácio do rei, conforme
apresentadas no livro de Ester, são exatas até nos mínimos detalhes. —
5:1, 2.
Nota-se essa mesma exatidão também no próprio relato, na maneira
cuidadosa em que menciona os oficiais e os assistentes da corte,
fornecendo até mesmo o nome dos dez filhos de Hamã. A linhagem de
Mordecai e Ester é remontada a Quis, da tribo de Benjamim. (2:5-7)
Fazem-se referências aos registros oficiais do governo persa. (2:23;
6:1; 10:2) A linguagem do livro é o hebraico posterior, com o acréscimo
de muitas palavras e expressões persas e aramaicas, cujo estilo combina
com o de Crônicas, Esdras e Neemias, harmonizando-se assim inteiramente
com o período em que foi escrito.
Acredita-se que os eventos de Ester se desenrolam nos dias em que o
poderoso império persa encontrava-se no seu apogeu, e que abrangem cerca
de 18 anos do reinado de Assuero (Xerxes I). O período que se estende
até cerca de 473 a.C. é indicado pelo testemunho de fontes gregas,
persas, e babilônicas. Mordecai, testemunha ocular e um dos principais
personagens do relato, foi, mui provavelmente, o escritor do livro; o
relato íntimo e pormenorizado indica que o escritor deve ter vivenciado
esses eventos no palácio de Susã. Embora não seja mencionado em nenhum
outro livro da Bíblia, não há dúvida de que Mordecai foi personagem real
da história. É interessante que se encontrou um texto cuneiforme não
datado, descrito por A. Ungnad, da Alemanha, como se referindo a Mardukâ
(Mordecai?) qual alto oficial da corte de Susa (Susã) durante o reinado
de Xerxes I. Foi ali em Susã que Mordecai sem dúvida completou o
registro dos eventos de Ester, assim que ocorreram, isto é, por volta de
473 a.C..
CONTEÚDO DE ESTER
Deposta a Rainha Vasti (1:1-22). É o terceiro ano do reinado de
Assuero. Ele realiza um lauto banquete para os oficiais do seu império,
mostrando-lhes as riquezas e a glória do seu reino durante 180 dias. A
seguir, há um grandioso banquete de sete dias para todo o povo de Susã.
Ao mesmo tempo, Vasti, a rainha, dá um banquete para as mulheres. O rei
se jacta de suas riquezas e glória e, estando alegre com vinho, manda
chamar Vasti para vir mostrar sua beleza ao povo e aos príncipes. A
Rainha Vasti persiste em se recusar a ir. Seguindo o conselho dos
oficiais da corte, que argumentam que este mau exemplo poderá fazer com
que o rei perca prestígio em todo o império, Assuero remove Vasti da
posição de rainha e emite documentos convocando todas as esposas a ‘dar
honra a seu dono’ e todos os maridos a ‘agir continuamente como
príncipes na sua própria casa’. — 1:20, 22.
Ester torna-se rainha (2:1-23). Mais tarde, o rei nomeia
comissários para procurar as mais belas virgens em todas as 127
províncias do império e trazê-las a Susã, onde deverão receber um
tratamento de beleza para serem apresentadas ao rei. Entre as jovens
selecionadas acha-se Ester. Ester é órfã judia, “bonita de figura e bela
de aparência”, que foi criada por seu primo, Mordecai, um oficial em
Susã. (2:7) O nome judaico de Ester, Hadassa, significa “Murta”. Hegai,
o guardião das mulheres, se agrada de Ester e lhe dá tratamento
especial. Ninguém sabe que ela é judia, pois Mordecai instruiu-a a
guardar sigilo sobre isso. As jovens são levadas à presença do rei, uma
de cada vez. Ele seleciona Ester como sua nova rainha, e realiza-se um
banquete para celebrar sua coroação. Pouco depois, Mordecai fica sabendo
de uma conspiração para assassinar o rei, e manda Ester informá-lo disso
“em nome de Mordecai”. (2:22) A trama é descoberta, e os conspiradores
são enforcados, fazendo-se registro disso nos anais reais.
A conspiração de Hamã (3:1–5:14). Decorrem cerca de quatro anos.
Hamã, pelo visto descendente do rei amalequita Agague, a quem Samuel
matou, torna-se primeiro-ministro. (1 Sam. 15:33) O rei o exalta e
ordena que todos os seus servos no portão do rei se curvem diante de
Hamã. Estes incluem Mordecai. Entretanto, Mordecai recusa-se a fazer
isso, tornando conhecido aos servos do rei que ele é judeu. (Compare com
Êxodo 17:14, 16.) Hamã fica cheio de furor, e, ao descobrir que Mordecai
é judeu, vê nisto a grande oportunidade de se livrar de Mordecai e de
todos os judeus de uma vez por todas. Lança-se a sorte (pur) para
determinar um bom dia para aniquilar os judeus. Hamã, valendo-se do seu
favor junto ao rei, acusa os judeus de serem anárquicos e pede que a
destruição deles seja ordenada por escrito. Hamã oferece uma
contribuição de 10.000 talentos de prata (o equivalente a cerca de US$
66.060.000) para financiar a matança. O rei consente, e enviam-se a todo
o império ordens escritas seladas com o anel do rei, marcando o dia 13
de adar para o genocídio dos judeus.
Ao saberem da lei, Mordecai e todos os judeus pranteiam de serapilheira
e cinzas. Há “jejum, e choro, e lamento”. (Est. 4:3) Ao ser informada
por Mordecai sobre a situação crítica dos judeus, Ester hesita, de
início, em interceder. A penalidade por comparecer perante o rei sem ser
convidado é a morte. Todavia, Mordecai mostra fé no poder de Deus,
declarando que, se Ester falhar para com eles, ela morrerá de qualquer
forma, e o livramento ‘procedente de outro lugar, pôr-se-á de pé para os
judeus’. Ademais, quem sabe se não foi “para um tempo como este” que
Ester se tornou rainha? (4:14) Vendo a questão, ela concorda em correr o
risco, e todos os judeus em Susã jejuam com ela durante três dias.
Daí, Ester comparece diante do rei, vestida de seus mais requintados
trajes reais. Ela obtém favor aos olhos dele, de modo que este lhe
estende o cetro de ouro, poupando-lhe a vida. Ela convida então o rei e
Hamã para um banquete. Durante o banquete, o rei insta-a a revelar seu
pedido, assegurando-lhe de que será concedido, “até a metade do
reinado”, após o que ela convida os dois para outro banquete no dia
seguinte. (5:6) Hamã sai alegre. Mas, junto ao portão da casa do rei se
acha Mordecai! Este se recusa outra vez a prestar honra a Hamã ou a
tremer diante dele. A alegria de Hamã transforma-se em furor. Sua esposa
e seus amigos sugerem que ele construa um madeiro de 50 côvados (22,3 m)
de altura e obtenha uma ordem do rei para enforcar Mordecai nele. Hamã
manda construir a estaca imediatamente.
Inversão na situação (6:1–7:10). Naquela noite, o rei não
consegue dormir. Manda que lhe seja trazido e lido o livro dos
registros, e descobre que não recompensou a Mordecai por salvar sua
vida. Mais tarde, o rei indaga sobre quem está no pátio. É Hamã, que
veio pedir ao rei autorização para executar Mordecai. O rei pergunta a
Hamã sobre como deve ser honrado alguém de quem o rei se agrada. Hamã,
imaginando que o rei estivesse pensando nele, delineia um pródigo
programa de honras. Mas o rei lhe ordena: “Faze assim a Mordecai, o
judeu”! (6:10) Hamã não tem alternativa senão vestir a Mordecai de
esplendor régio, colocá-lo no cavalo do rei e conduzi-lo pela praça
pública da cidade, clamando diante dele. Humilhado, Hamã se apressa em
ir para casa, pranteando. Sua esposa e seus amigos não têm nenhum
consolo a oferecer. Hamã está condenado!
Agora é hora de Hamã comparecer ao banquete com o rei e Ester. A rainha
declara que ela e seu povo foram vendidos para serem destruídos. Quem se
atreveu a perpetrar tal iniqüidade? Ester diz: “O homem, o adversário e
inimigo, é este mau Hamã.” (7:6) O rei se levanta enfurecido e sai para
o jardim. Hamã, sozinho com a rainha, implora que lhe poupe a vida, e o
rei, ao retornar, fica ainda mais furioso ao ver Hamã sobre o leito da
rainha. Sem demora, ordena que Hamã seja enforcado no mesmo madeiro que
Hamã havia preparado para Mordecai! — Sal. 7:16.
Mordecai é promovido, os judeus são libertados (8:1–10:3). O rei
dá a Ester todos os pertences de Hamã. Ester informa a Assuero seu
parentesco com Mordecai, a quem o rei promove à posição anteriormente
ocupada por Hamã, dando-lhe o anel com o sinete real. Novamente, Ester
arrisca a vida ao comparecer perante o rei para solicitar a anulação do
decreto escrito de destruição dos judeus. Contudo, “as leis da Pérsia e
da Média” não podem ser anuladas! (1:19) O rei dá, portanto, a Ester e a
Mordecai autoridade para redigir uma nova lei e selá-la com o anel do
rei. Esta ordem escrita, enviada a todo o império do mesmo modo como a
anterior, concede aos judeus o direito de ‘congregar-se e tomar posição
pelas suas almas, para aniquilar e matar, e destruir toda a força do
povo e do distrito jurisdicional que lhes mostre hostilidade, pequeninos
e mulheres, e para saquear o seu despojo’, no mesmo dia em que a lei de
Hamã entra em vigor. — 8:11.
Chegando o dia designado, 13 de adar, nenhum homem consegue resistir aos
judeus. A pedido de Ester ao rei, a luta prossegue em Susã até o dia 14.
Ao todo, 75.000 dos inimigos dos judeus são mortos em todo o império.
Outros 810 são mortos em Susã, o castelo. Entre estes se acham os dez
filhos de Hamã, que são mortos no primeiro dia e pendurados no madeiro
no segundo dia. Não se toma despojo. No dia 15 de adar, há descanso, e
os judeus passam a banquetear-se e a regozijar-se. Mordecai dá então
instruções por escrito para que os judeus guardem essa festa de “Pur,
isto é, a Sorte”, todos os anos nos dias 14 e 15 de adar, e isto fazem
até hoje. (9:24) Mordecai é exaltado no reino, e se vale de sua posição,
como o segundo depois do Rei Assuero, “para o bem de seu povo e falando
paz a toda a descendência deles”. — 10:3.
TIRANDO PROVEITO PARA NOSSOS DIAS
Embora nenhum outro escritor da Bíblia faça qualquer citação direta de
Ester, o livro se harmoniza plenamente com o restante das Escrituras
inspiradas. De fato, fornece ilustrações esplêndidas de princípios
bíblicos declarados mais tarde nas Escrituras Gregas Cristãs e que se
aplicam a adoradores de Deus de todas as épocas. Um estudo das seguintes
passagens, não só comprovará isso, mas será edificante para a fé cristã:
Ester 4:5—Filipenses 2:4; Ester 9:22—Gálatas 2:10. A acusação feita
contra os judeus, de que não obedeciam às leis do rei, é similar à
acusação levantada contra os primitivos cristãos. (Est. 3:8, 9; Atos
16:21; 25:7) Os verdadeiros servos de Deus enfrentam tais acusações com
destemor e confiança, com orações, no poder divino de os livrar, segundo
o esplêndido modelo de Mordecai, Ester e seus co-judeus. — Est. 4:16;
5:1, 2; 7:3-6; 8:3-6; 9:1, 2.
Quais cristãos, não devemos achar que nossa situação difere da de
Mordecai e Ester. Também vivemos sob “autoridades superiores” num mundo
do qual não fazemos parte. Desejamos ser cidadãos acatadores da lei em
qualquer país em que vivamos, mas, ao mesmo tempo, desejamos traçar
corretamente a linha demarcatória entre ‘pagar de volta a César as
coisas de César e a Deus as coisas de Deus’. (Rom. 13:1; Luc. 20:25) O
primeiro-ministro Mordecai e a Rainha Ester deram bom exemplo de devoção
e obediência na execução de seus deveres seculares. (Est. 2:21-23; 6:2,
3, 10; 8:1, 2; 10:2) Todavia, Mordecai traçou destemidamente a linha
demarcatória quanto a obedecer à ordem real de curvar-se diante do
desprezível agagita, Hamã. Ademais, cuidou de que se fizesse um apelo
para a obtenção duma solução legal quando Hamã conspirou destruir os
judeus. — 3:1-4; 5:9; 4:6-8.
Toda a evidência indica que o livro de Ester faz parte da Bíblia
Sagrada, “inspirada por Deus e proveitosa”. Mesmo sem mencionar
diretamente Deus ou seu nome, fornece-nos excelentes exemplos de fé.
Mordecai e Ester não foram meros frutos da imaginação de algum
novelista, mas foram servos reais de Deus, pessoas que depositaram
confiança implícita no poder salvador de Deus. Embora vivessem sob
“autoridades superiores” num país estrangeiro, empregaram todos os meios
legais para defender os interesses do povo de Deus e sua adoração. Nós
podemos seguir hoje o exemplo deles em “defender e estabelecer
legalmente as boas novas” do libertador Reino de Deus. — Fil. 1:7.