Atos
(At)
Este é o título pelo qual tem
sido chamado um dos livros da Bíblia desde o segundo século dC. Abrange
primariamente as atividades de Pedro e de Paulo, em vez de as de todos
os apóstolos em geral; e fornece-nos uma história muitíssimo fidedigna e
abrangente do espetacular começo e do rápido desenvolvimento da Igreja
cristã, primeiro entre os judeus, e então entre os samaritanos e as
nações gentias.
O tema dominante da Bíblia inteira, o Reino de Deus, predomina no livro
(At 1:3; 8:12; 14:22; 19:8; 20:25; 28:31), e somos constantemente
lembrados de que os apóstolos deram “testemunho cabal” a respeito de
Cristo e desse Reino, e realizaram plenamente o seu ministério. (2:40;
5:42; 8:25; 10:42; 20:21, 24; 23:11; 26:22; 28:23) O livro fornece
também um notável fundo histórico para se considerar as cartas
inspiradas das Escrituras Gregas Cristãs.
O Escritor. As palavras iniciais de
Atos referem-se ao Evangelho de Lucas como “o primeiro relato”. E visto
que ambos os relatos são dirigidos à mesma pessoa, Teófilo, sabemos que
Lucas, embora não assinasse seu nome, foi o escritor de Atos. (Lu 1:3;
At 1:1) Ambos os relatos têm estilo e linguagem similares. O Fragmento
Muratoriano, de fins do segundo século dC, também atribui a escrita a
Lucas. Escritos eclesiásticos do segundo século dC, de Irineu de Lião,
de Clemente de Alexandria, e de Tertuliano de Cartago, quando citam
Atos, mencionam Lucas como o escritor.
Quando e Onde Foi Escrito. O livro
abrange um período de aproximadamente 28 anos, desde a ascensão de Jesus
em 33 dC até o fim do segundo ano da prisão de Paulo em Roma, por volta
de 61 dC. Durante este período, quatro imperadores romanos governaram em
seqüência: Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Visto que relata eventos
decorridos no segundo ano da prisão de Paulo em Roma, não poderia ter
sido concluído antes disso. Se o relato tivesse sido escrito mais tarde,
seria razoável esperar que Lucas fornecesse mais informações sobre
Paulo; se escrito depois do ano 64 dC, certamente teria mencionado a
violenta perseguição movida por Nero, que começou então; e, se escrito
depois de 70 dC, como alguns argumentam, esperaríamos encontrar
registrada a destruição de Jerusalém.
O escritor Lucas acompanhou Paulo em grande parte do período das suas
viagens, inclusive na perigosa viagem a Roma, o que é evidente do uso
que faz dos pronomes na primeira pessoa do plural, “nós”, “nosso”,
“nos”, em Atos 16:10-17; 20:5-15; 21:1-18; 27:1-37; 28:1-16. Paulo, nas
suas cartas escritas de Roma, menciona que Lucas também estava ali. (Col
4:14; Flm 24) Foi, por conseguinte, em Roma que se concluiu a escrita do
livro de Atos.
Conforme já observado, o próprio Lucas foi testemunha ocular de grande
parte do que escreveu, e, em suas viagens, ele contatou concristãos que
participaram de certos eventos descritos ou os observaram. Por exemplo,
João Marcos podia contar-lhe o miraculoso livramento de Pedro da prisão
(At 12:12), ao passo que os eventos descritos nos capítulos 6 e 8
poderiam ter sido relatados pelo missionário Filipe. E Paulo,
naturalmente, como testemunha ocular, podia suprir muitos pormenores dos
eventos ocorridos quando Lucas não estava com ele.
Autenticidade. A exatidão do livro
de Atos tem sido comprovada, no decorrer dos anos, por várias
descobertas arqueológicas. Por exemplo, Atos 13:7 diz que Sérgio Paulo
era o procônsul de Chipre. Ora, sabe-se que, pouco antes de Paulo
visitar Chipre, esta era governada por meio dum propretor ou legado, mas
uma inscrição encontrada em Chipre prova que a ilha passou a estar sob o
governo direto do Senado romano, na pessoa de um governador provincial
chamado procônsul. Similarmente, na Grécia, durante o governo de Augusto
César, a Acaia era uma província sob o governo direto do Senado romano,
mas, quando Tibério era imperador, ela foi governada diretamente por
ele. Mais tarde, sob o imperador Cláudio, tornou-se novamente uma
província senatorial, segundo Tácito. Descobriu-se um fragmento dum
rescrito de Cláudio aos délficos da Grécia, que se refere ao
proconsulado de Gálio. Por conseguinte, Atos 18:12 está correto ao falar
de Gálio como “procônsul” quando Paulo estava ali em Corinto, capital da
Acaia. Também, uma inscrição num arco em Tessalônica (inscrição de que
se preservaram fragmentos no Museu Britânico) mostra que Atos 17:8 está
correto ao falar dos “governantes da cidade” (“poliarcas”, governadores
dos cidadãos), embora este título não seja encontrado na literatura
clássica.
Até o dia de hoje, em Atenas, o Areópago, ou colina de Marte, onde Paulo
pregou, ergue-se como testemunha silenciosa da veracidade de Atos. (At
17:19) Termos e expressões médicas encontradas em Atos estão de acordo
com os escritores médicos gregos daquele tempo. Os meios de viagem
empregados no Oriente Médio, no primeiro século, eram essencialmente
conforme descritos em Atos: via terrestre, caminhadas, andar a cavalo ou
em carros puxados a cavalo (23:24, 31, 32; 8:27-38); via marítima, por
navios de carga. (21:1-3; 27:1-5) Aquelas embarcações antigas não
possuíam um leme único, mas eram controladas por dois grandes remos, daí
estes serem mencionados com exatidão no plural. (27:40) A descrição da
viagem de Paulo, de navio, a Roma (27:1-44), no tocante ao tempo que
durou, à distância percorrida e aos lugares visitados, é reconhecida por
marujos modernos, familiarizados com a região, como inteiramente
fidedigna e confiável.
Atos dos Apóstolos foi aceito sem reservas como Escritura inspirada e
canônica pelos catalogadores das Escrituras do segundo até o quarto
século dC. Trechos do livro, junto com fragmentos dos quatro Evangelhos,
encontram-se no manuscrito de papiro Chester Beatty N.° 1 (P45), do
terceiro século dC. O manuscrito Michigan N.° 1571 (P38), do terceiro ou
do quarto século, contém trechos dos capítulos 18 e 19, e um manuscrito
do quarto século, Aegyptus N.° 8683 (P8), contém partes dos capítulos 4
a 6. O livro de Atos foi citado por Policarpo de Esmirna, por volta de
115 dC, por Inácio de Antioquia, por volta de 110 dC, e por Clemente de
Roma, talvez já em 95 dC. Atanásio, Jerônimo e Agostinho, do quarto
século, confirmam todos as listas anteriores que incluíam Atos.
DESTAQUES DE ATOS
Eventos ocorridos até o Pentecostes (1:1-26). No início deste
segundo relato de Lucas, o ressuscitado Jesus diz a seus ansiosos
discípulos que eles serão batizados com o Espírito Santo. Será o Reino
restaurado neste tempo? Não. Mas receberão poder e tornar-se-ão
testemunhas "até à parte mais distante da terra". Jesus ao ascender,
desaparecendo da vista deles, dois homens vestidos de branco lhes dizem:
"Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que
dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim
como para o céu o vistes ir. ." - 1:8, 11.
O memorável dia de Pentecostes (2:1-42). Todos os discípulos
estão reunidos em Jerusalém. Subitamente, um ruído semelhante ao dum
vento impetuoso enche a casa. Línguas como que de fogo se assentam sobre
os que estão presentes. Eles ficam cheios do Espírito Santo e começam a
falar em línguas diferentes sobre "as coisas magníficas de Deus". (2:11)
Os espectadores ficam perplexos. Então Pedro se levanta para falar. Ele
explica que este derramamento do Espírito Santo é o cumprimento da
profecia de Joel (2:28-32) e que Jesus Cristo, agora ressuscitado e
enaltecido à destra de Deus, 'derramou isto que vêem e ouvem'. Estando
compungidos, cerca de 3.000 aceitam a palavra e são batizados. - 2:33.
Expansão do testemunho (2:43-5:42). Deus continua a ajuntar-lhes
diariamente os que estão sendo salvos. Junto ao templo, Pedro e João
encontram um homem aleijado que jamais andou na vida. "Em nome de Jesus
Cristo, o nazareno, anda!", ordena Pedro. Imediatamente, o homem começa
'a andar, e a pular, e a louvar a Deus'. Pedro admoesta então as pessoas
a se arrepender e dar meia-volta, "para que venham épocas de refrigério
da parte da pessoa de Deus". Contrariados por Pedro e João ensinarem a
ressurreição de Jesus, os líderes religiosos os prendem, mas as fileiras
dos crentes aumentam para cerca de 5.000 homens. - 3:6, 8, 19.
No dia seguinte, Pedro e João são levados perante os governantes judeus
para interrogatório. Pedro testifica intrepidamente que a salvação só
vem por meio de Jesus Cristo, e, quando se lhes ordena que cessem sua
obra de pregação, tanto Pedro como João replicam: "Se é justo, à vista
de Deus, escutar antes a vós do que a Deus, julgai-o vós mesmos. Mas,
quanto a nós, não podemos parar de falar das coisas que vimos e
ouvimos." (4:19, 20) Eles são postos em liberdade, e todos os discípulos
continuam a falar a palavra de Deus com denodo. Em virtude das
circunstâncias, reúnem os seus bens materiais e fazem distribuições
segundo a necessidade. Todavia, um homem chamado Ananias e sua esposa
Safira vendem uma propriedade e, ao passo que dão a aparência de terem
dado a soma inteira, eles retêm secretamente parte do preço. Pedro os
expõe, e eles caem mortos por terem trapaceado a Deus e ao Espírito
Santo.
Os líderes religiosos, enfurecidos, tornam a lançar os apóstolos na
prisão, mas, desta vez, o anjo do Senhor os liberta. No dia seguinte,
são levados outra vez perante o Sinédrio, sendo acusados de 'encher
Jerusalém com o seu ensino'. Eles replicam: "Temos de obedecer a Deus
como governante antes que aos homens." Embora chibateados e ameaçados,
ainda assim se recusam a parar, e 'cada dia, no templo e de casa em
casa, continuam sem cessar a ensinar e a declarar as boas novas a
respeito do Cristo, Jesus'. - 5:28, 29, 42.
O martírio de Estêvão (6:1-8:1a). Estêvão é um dos sete
designados pelo Espírito Santo para distribuir alimento às mesas. Ele dá
também poderoso testemunho a respeito da verdade, e tão zeloso é o seu
apoio da fé que seus oponentes, enfurecidos, o fazem comparecer perante
o Sinédrio sob a acusação de blasfêmia. Na sua defesa, Estêvão fala
primeiro da longanimidade de Deus para com Israel. Daí, com eloqüência
destemida, chega ao ponto: 'Homens obstinados, sempre resistis ao
Espírito Santo, vós, os que recebestes a Lei, conforme transmitida por
anjos, mas não a guardastes.' (7:51-53) Isto é demais para eles!
Lançam-se sobre ele, jogam-no fora da cidade e o apedrejam até morrer.
Saulo observa com aprovação.
As perseguições, a conversão de Saulo (8:1b-9:30). A perseguição
que começa naquele dia contra a Igreja em Jerusalém dispersa pelo país
inteiro a todos, exceto aos apóstolos. Filipe vai para Samaria, onde
muitos aceitam a palavra de Deus. Pedro e João são enviados de Jerusalém
para lá a fim de tais crentes receberem o Espírito Santo "pela imposição
das mãos dos apóstolos". (8:18) Um anjo manda então Filipe para o sul,
para a estrada Jerusalém-Gaza, onde encontra um eunuco da corte real da
Etiópia, que, no seu carro, está lendo o livro de Isaías. Filipe lhe
esclarece o significado da profecia e o batiza.
No ínterim, Saulo, "respirando ainda ameaça e assassínio contra os
discípulos do Senhor", empreende viagem para ir prender os que
'pertencem ao Caminho', em Damasco. Repentinamente, reluz em volta dele
uma luz vinda do céu, e ele cai por terra, cego. Uma voz do céu lhe diz:
"Eu sou Jesus, a quem tu persegues." Depois de três dias em Damasco, um
discípulo de nome Ananias vem prestar-lhe ajuda. Saulo recupera a vista,
é batizado e fica cheio do Espírito Santo, de modo que se torna um
zeloso e habilitado pregador das boas novas. (9:1, 2, 5) Nessa
surpreendente reviravolta de acontecimentos, o perseguidor passa a ser o
perseguido e tem de fugir para salvar sua vida, primeiro, de Damasco,
depois, de Jerusalém.
As boas novas chegam aos gentios incircuncisos (9:31-12:25). A
Igreja então 'entra num período de paz, sendo edificada; e, como anda no
temor de Deus e no consolo do Espírito Santo, continua a
multiplicar-se'. (9:31) Em Jope, Pedro ressuscita a querida Tabita (Dorcas),
e é ali que recebe a chamada para ir a Cesaréia, onde um oficial do
exército, chamado Cornélio, o aguarda. Ele prega a Cornélio e aos de sua
casa, e eles crêem, sendo derramado sobre eles o Espírito Santo.
Discernindo que "Deus não é parcial, mas, em cada nação, o homem que o
teme e que faz a justiça lhe é aceitável", Pedro os batiza - são os
primeiros gentios incircuncisos a se converter. Pedro explica mais tarde
este novo acontecimento aos irmãos em Jerusalém, em vista do que eles
glorificam a Deus. - 10:34, 35.
Ao passo que as boas novas continuam a espalhar-se rapidamente, Barnabé
e Saulo ensinam um grande número de pessoas em Antioquia, 'e é primeiro
em Antioquia que os discípulos, por providência divina, são chamados
cristãos'. (11:26) Torna a irromper a perseguição. Herodes Agripa I
manda matar à espada a Tiago, irmão de João. Lança também a Pedro na
prisão, mas de novo o anjo de Deus o liberta. Que fim lamentável do
iníquo Herodes! Por não dar glória a Deus, comido de vermes, morre. Em
contrapartida, 'a palavra de Deus continua a crescer e a se espalhar'. -
12:24.
Primeira viagem missionária de Paulo, com Barnabé (13:1-14:28).
Barnabé e "Saulo, que é também Paulo", são escolhidos e enviados de
Antioquia pelo Espírito Santo. (13:9) Na ilha de Chipre, muitos, também
o procônsul Sérgio Paulo, se tornam crentes. Na Ásia Menor continental,
visitam seis ou mais cidades, e em toda a parte acontece a mesma coisa:
vê-se uma distinção entre os que aceitam alegremente as boas novas e os
oponentes obstinados que incitam as turbas a atirar pedras nos
mensageiros de Deus. Depois de fazerem designações de anciãos nas
igrejas recém-formadas, Paulo e Barnabé retornam à Antioquia da Síria.
Solução dada à questão da circuncisão (15:1-35). Com a grande
afluência de não-judeus, surge a questão quanto a se estes devem ou não
ser circuncidados. Paulo e Barnabé levam a questão aos apóstolos e aos
anciãos em Jerusalém, onde o discípulo Tiago preside à reunião e
providencia enviar a decisão unânime mediante carta formal: "Pareceu bem
ao Espírito Santo e a nós mesmos não vos acrescentar nenhum fardo
adicional, exceto as seguintes coisas necessárias: de persistirdes em
abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, e de sangue, e de coisas
estranguladas, e de fornicação." (15:28, 29) O encorajamento desta carta
faz com que os irmãos em Antioquia se regozijem.
Expansão do ministério em resultado da segunda viagem de Paulo
(15:36-18:22). "Depois de alguns dias", Barnabé e Marcos embarcam rumo a
Chipre, ao passo que Paulo e Silas passam pela Síria e Ásia Menor.
(15:36) O jovem Timóteo se junta a Paulo em Listra, e prosseguem para
Trôade, na costa do mar Egeu. Ali, Paulo vê numa visão um homem que lhe
suplica: "Passa à Macedônia e ajuda-nos." (16:9) Lucas se junta a Paulo
e eles tomam um navio para Filipos, a cidade principal da Macedônia,
onde Paulo e Silas são lançados na prisão. Isto resulta em o carcereiro
tornar-se crente e ser batizado. Ao serem soltos, vão a Tessalônica, e
ali os judeus, ficando com ciúmes, incitam a turba contra eles. De modo
que os irmãos enviam Paulo e Silas de noite a Beréia. Ali, os judeus
mostram ter mentalidade nobre, recebendo a palavra "com o maior anelo
mental, examinando cuidadosamente as Escrituras, cada dia", em busca de
confirmação das coisas aprendidas. (17:11) Paulo, deixando Silas e
Timóteo nesta nova Igreja, assim como havia deixado Lucas em Filipos,
continua rumo ao sul, para Atenas.
Nesta cidade de ídolos, altivos filósofos epicureus e estóicos chamam,
com escárnio, a Paulo de "paroleiro" e "publicador de deidades
estrangeiras", e o levam ao Areópago, ou colina de Marte. Com hábil
oratória, Paulo argumenta em favor de se buscar o verdadeiro Deus, o
"Senhor do céu e da terra", que garante um julgamento justo por
intermédio daquele a quem ressuscitou dentre os mortos. A menção da
ressurreição divide a sua assistência, mas alguns se tornam crentes. -
17:18, 24.
A seguir, em Corinto, Paulo fica com Áquila e Priscila, trabalhando com
eles na profissão de fazer tendas. A oposição à sua pregação o obriga a
sair da sinagoga e a realizar as suas reuniões numa casa contígua, no
lar de Tício Justo. Crispo, o presidente da sinagoga, torna-se crente.
Depois de uma estada de 18 meses em Corinto, Paulo parte com Áquila e
Priscila para Éfeso, onde os deixa, e continua a viagem à Antioquia da
Síria, completando assim a sua segunda viagem missionária.
Paulo revisita as Igrejas, terceira viagem (18:23-21:26). Certo
judeu de nome Apolo, procedente de Alexandria, Egito, chega a Éfeso e
fala intrepidamente na sinagoga a respeito de Jesus, mas Áquila e
Priscila notam a necessidade de corrigir o seu ensino antes de ele ir a
Corinto. Paulo está agora na sua terceira viagem, e no devido tempo
chega a Éfeso. Ao saber que os crentes ali foram batizados com o batismo
de João, Paulo lhes explica o batismo em nome de Jesus. Daí, batiza
cerca de 12 homens, impõe as mãos sobre eles e estes recebem o Espírito
Santo.
Nos três anos em que Paulo fica em Éfeso, 'a palavra de Deus continua a
crescer e a prevalecer de modo poderoso', e muitos abandonam a adoração
da deusa padroeira da cidade, Ártemis. (19:20) Os fabricantes de
santuários de prata, enfurecidos com a idéia de seu negócio correr
perigo, criam tal alvoroço na cidade que leva horas para dispersar a
turba. Logo depois, Paulo parte para a Macedônia e para a Grécia,
visitando a caminho os crentes.
Paulo fica três meses na Grécia antes de retornar pela Macedônia, onde
Lucas se junta outra vez a ele. Fazem a travessia até Trôade, e ali,
enquanto Paulo discursa noite adentro, um rapaz adormece e cai duma
janela do terceiro pavimento. É apanhado morto, mas Paulo lhe restaura a
vida. No dia seguinte, Paulo e os que o acompanham partem para Mileto,
onde, a caminho de Jerusalém, Paulo faz uma parada para se reunir com os
anciãos de Éfeso. Ele lhes informa que não mais verão a sua face. Quão
urgente é, pois, que assumam a liderança e pastoreiem o rebanho de Deus,
"entre o qual o Espírito Santo os designou bispos, para apascentardes a
igreja de Deus, que ele resgatou
com seu próprio sangue"! Relembra-lhes o exemplo que ele lhes deu, e
admoesta-os a permanecer despertos, não se poupando em dar de si mesmos
a favor dos irmãos. (20:28) Embora advertido para não pôr os pés em
Jerusalém, Paulo não volta atrás. Seus companheiros aquiescem, dizendo:
"Realize-se a vontade de Deus." (21:14) Há grande regozijo quando Paulo
relata a Tiago e aos anciãos a respeito da bênção de Deus sobre seu
ministério entre as nações.
Paulo detido e julgado (21:27-26:32). Quando Paulo aparece no
templo em Jerusalém, é recebido com hostilidade. Judeus da Ásia incitam
a cidade inteira contra ele, e os soldados romanos o socorrem no momento
preciso.
Qual a razão de todo o tumulto? Quem é este Paulo? Qual é o seu crime? O
comandante militar, perplexo, quer respostas. Por causa de sua cidadania
romana, Paulo escapa de ser açoitado e é levado perante o Sinédrio. Hum!
Um tribunal dividido de fariseus e saduceus! Paulo, por conseguinte,
levanta a questão da ressurreição, lançando uns contra os outros. Como a
dissensão se torna violenta, os soldados romanos têm de arrancar Paulo
do meio do Sinédrio antes que o dilacerem. Acompanhado de uma grande
escolta de soldados, ele é enviado secretamente de noite ao Governador
Félix, em Cesaréia.
Acusado de sedição, Paulo apresenta a Félix a sua defesa com habilidade.
Mas Félix retém Paulo, na esperança de receber dinheiro de suborno para
o soltar. Passam-se dois anos. Pórcio Festo sucede a Félix como
governador, e ordena-se novo julgamento. Outra vez, sérias acusações são
feitas, e Paulo torna a declarar a sua inocência. Entretanto, Festo, a
fim de ganhar o favor dos judeus, sugere que seja feito mais um
julgamento perante ele, em Jerusalém. Contudo, Paulo declara: "Apelo
para César!" (25:11) Passa-se mais algum tempo. Por fim, o Rei Herodes
Agripa II faz uma visita de cortesia a Festo, e Paulo é levado mais uma
vez à sala de audiência. Tão poderoso e convincente é o seu testemunho
que Agripa é movido a lhe dizer: "Em pouco tempo me persuadirias a
tornar-me cristão." (26:28) Agripa reconhece igualmente a inocência de
Paulo e que poderia ser solto se não tivesse apelado para César.
Paulo vai a Roma (27:1-28:31). O prisioneiro Paulo e outros são
levados de barco para a primeira etapa da viagem a Roma. Os ventos sendo
contrários, o progresso é lento. No porto de Mirra, mudam de navio. Ao
chegarem a Bons Portos, em Creta, Paulo recomenda que passem o inverno
ali, mas a maioria aconselha que viajem. Mal começam a navegar, quando
um vento tempestuoso se apodera deles e implacavelmente os põe à deriva.
Depois de duas semanas, o barco é por fim despedaçado num banco de areia
perto da costa de Malta. Conforme Paulo assegurara, nenhum dos 276 a
bordo perde a vida! Os habitantes de Malta mostram extraordinário
humanitarismo, e, durante aquele inverno, Paulo cura a muitos dentre
eles pelo poder miraculoso do Espírito de Deus.
Na primavera seguinte, Paulo chega a Roma, e os irmãos vão à estrada
para o acolher. Ao avistá-los, Paulo 'agradece a Deus e toma coragem'.
Embora ainda prisioneiro, permite-se que Paulo permaneça na sua própria
casa alugada com um soldado de guarda. Lucas termina a sua narrativa
descrevendo a bondosa acolhida de Paulo a todos os que vão ter com ele,
"pregando-lhes o reino de Deus e ensinando com a maior franqueza no
falar as coisas concernentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento". -
28:15, 31.
POR QUE É PROVEITOSO PARA NÓS.
O livro de Atos constitui um testemunho em adição aos relatos dos
Evangelhos em confirmar a autenticidade e a inspiração das Escrituras
Hebraicas. Quando se aproximava o Pentecostes, Pedro citou o cumprimento
de duas profecias "que o Espírito Santo predissera pela boca de Davi a
respeito de Judas". (Atos 1:16, 20; Sal. 69:25; 109:8) Pedro também
disse à multidão surpresa no Pentecostes que estavam vendo realmente o
cumprimento da profecia: "Isto é o que foi dito por intermédio do
profeta Joel." - Atos 2:16-21; Joel 2:28-32; compare também Atos
2:25-28, 34, 35 com Salmos 16:8-11 e Sal.110:1.
Para convencer outra multidão reunida junto ao templo, Pedro recorreu de
novo às Escrituras Hebraicas, primeiro, citando Moisés e, daí, dizendo:
"E, de fato, todos os profetas, de Samuel em diante e os em sucessão,
tantos quantos falaram, declararam também distintamente estes dias."
Mais tarde, perante o Sinédrio, Pedro citou o Salmo 118:22, demonstrando
que Cristo, a pedra que eles rejeitaram, se tornara "a principal do
ângulo". (Atos 3:22-24; 4:11) Filipe explicou ao eunuco etíope como a
profecia de Isaías 53:7, 8 havia sido cumprida, e, ao se lhe esclarecer
isto, ele pediu humildemente para que fosse batizado. (Atos 8:28-35)
Igualmente, falando a Cornélio sobre Jesus, Pedro testificou: "Dele é
que todos os profetas dão testemunho." (10:43) Quando a questão da
circuncisão estava sendo debatida, Tiago apoiou a sua decisão, dizendo:
"Com isso concordam as palavras dos Profetas, assim como está escrito."
(15:15-18) O apóstolo Paulo recorreu às mesmas autoridades. (26:22;
28:23, 25-27) O fato de os discípulos e seus ouvintes aceitarem
prontamente as Escrituras Hebraicas como sendo parte da Palavra de Deus
confirma que tais escritos eram considerados inspirados.
Atos é de grande proveito em mostrar como a Igreja cristã foi fundada e
como ela cresceu sob o poder do Espírito Santo. Em toda esta narrativa
impressionante, observamos as bênçãos de Deus no sentido de expansão, o
denodo e a alegria dos cristãos primitivos, bem como sua posição
intransigente em face da perseguição, e a sua voluntariedade em servir,
conforme exemplificado pela aceitação de Paulo dos convites de
empreender o serviço no estrangeiro e de ir à Macedônia. (4:13, 31;
15:3; 5:28, 29; 8:4; 13:2-4; 16:9, 10) A Igreja cristã hoje não é
diferente, pois está vinculada em amor, união e interesse comum, ao
passo que fala sobre "as coisas magníficas de Deus", sob a orientação do
Espírito Santo. - 2:11, 17, 45; 4:34, 35; 11:27-30; 12:25.
O livro de Atos mostra precisamente como deve ser executada a atividade
cristã de proclamar o Reino de Deus. O próprio Paulo foi um exemplo,
dizendo: "Não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse proveitosa,
nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa." E acrescenta: "Eu
dei cabalmente testemunho." Este tema de 'dar cabalmente testemunho'
chama a nossa atenção em todo o livro, e é sublinhado de modo
impressionante nos últimos parágrafos, em que ressalta a devoção de todo
o coração que Paulo tinha pela pregação e pelo ensino, mesmo sob os
laços da prisão, nas seguintes palavras: "E ele lhes explicou o assunto
por dar cabalmente testemunho a respeito do reino de Deus e por usar de
persuasão para com eles concernente a Jesus, tanto pela lei de Moisés
como pelos Profetas, de manhã até à noite." Tenhamos nós sempre essa
mesma sinceridade na nossa atividade do Reino! - 20:20, 21; 28:23; 2:40;
5:42; 26:22.
O discurso de Paulo aos irmãos pastores de Éfeso contém muitos conselhos
práticos para os irmãos pastores hoje. Visto que estes foram designados
pelo Espírito Santo, é de suma importância que 'prestem atenção a si
mesmos e a todo o rebanho', pastoreando as ovelhas ternamente e
guardando-as contra os lobos opressivos que procuram destruí-las. Que
pesada responsabilidade! Os irmãos pastores precisam manter-se despertos
e edificar-se na palavra da graça de Deus. Ao passo que se esforçam em
ajudar os que são fracos, precisam "ter em mente as palavras do Senhor
Jesus, quando ele mesmo disse: "Há mais felicidade em dar do que há em
receber". 20:17-35.
Os outros discursos de Paulo são igualmente brilhantes, pois expõem de
modo claro os princípios da Bíblia. Por exemplo, há a argumentação
clássica do seu discurso aos estóicos e aos epicureus no Areópago.
Primeiro, ele cita a inscrição do altar: "A um Deus Desconhecido", e usa
isto como motivo para explicar que o único Deus verdadeiro, o Senhor do
céu e da terra, que fez de um só homem toda a nação de homens, 'não está
longe de cada um de nós'. Daí, cita as palavras dos poetas deles: "Pois
nós também somos progênie dele", para mostrar quão ridículo é supor que
surgiram de ídolos de ouro, de prata ou de pedra, que não têm vida.
Paulo estabelece, assim, com tato, a soberania do Deus vivente. É só nas
suas palavras concludentes que ele suscita a questão da ressurreição.
Ele conseguiu fazer entender o ponto sobre a soberania suprema do único
Deus verdadeiro, e, em resultado disso, alguns se tornaram crentes. -
17:22-34.
O livro de Atos incentiva o estudo contínuo e diligente de "toda a
Escritura". Quando Paulo, pela primeira vez, pregou em Beréia, elogiou
os judeus ali por serem de 'mentalidade nobre', pois "recebiam a palavra
com o maior anelo mental, examinando cuidadosamente as Escrituras, cada
dia, quanto a se estas coisas eram assim". (17:11) Hoje, como naquela
época, esta ávida pesquisa das Escrituras, em associação com a Igreja
sobre a qual repousa o Espírito de Deus, resultará em bênçãos na forma
de convicção e firme fé. É mediante tal estudo que a pessoa pode chegar
a ter uma clara compreensão dos princípios divinos. Há uma excelente
declaração de alguns destes princípios em Atos 15:29. Ali, os apóstolos
e irmãos mais idosos em Jerusalém, deu a conhecer que, embora a
circuncisão não fosse exigida do Israel espiritual, havia proibição
explícita de idolatria e fornicação.
Aqueles primitivos discípulos estudavam realmente as Escrituras
inspiradas, e sabiam citá-las e aplicá-las de acordo com a necessidade.
Foram fortalecidos, mediante o conhecimento exato e o Espírito de Deus,
para fazerem face às perseguições violentas. Pedro e João deram o
exemplo para todos os cristãos fiéis, ao dizerem denodadamente aos
governantes oponentes: "Se é justo, à vista de Deus, escutar antes a vós
do que a Deus, julgai-o vós mesmos. Mas, quanto a nós, não podemos parar
de falar das coisas que vimos e ouvimos." E, quando levados outra vez
perante o Sinédrio, que lhes havia 'ordenado positivamente' que não
continuassem a ensinar à base do nome de Jesus, disseram
inequivocamente: "Temos de obedecer a Deus como governante antes que aos
homens." Esta resposta destemida resultou em excelente testemunho para
os governantes, e levou o célebre instrutor da Lei, Gamaliel, a fazer a
sua bem-conhecida declaração a favor da liberdade de adoração, o que
resultou na soltura dos apóstolos.- 4:19, 20; 5:28, 29, 34, 35, 38, 39.
O glorioso propósito de Deus concernente a seu Reino, que permeia a
Bíblia inteira como fio de ouro, destaca-se com muita proeminência no
livro de Atos. No início, mostra-se Jesus durante os 40 dias antes de
sua ascensão, "contando as coisas a respeito do reino de Deus". Foi em
resposta à pergunta dos discípulos a respeito da restauração do Reino
que Jesus lhes disse que precisavam primeiro ser Suas testemunhas até à
parte mais distante da terra. (1:3, 6, 8) Começando em Jerusalém, os
discípulos pregaram o Reino com inabalável intrepidez. As perseguições
causaram o apedrejamento de Estêvão e espalharam muitos dos discípulos a
novos territórios. (7:59, 60) Informa-se que Filipe declarou "as boas
novas do reino de Deus" com muito êxito em Samaria, e que Paulo e seus
colaboradores proclamaram "o reino" na Ásia, em Corinto, em Éfeso e em
Roma. Todos estes cristãos primitivos deixaram exemplos excelentes de
inabalável confiança em Deus e no Seu Espírito sustentador. (8:5, 12;
14:5-7, 21, 22; 18:1, 4; 19:1, 8; 20:25; 28:30, 31) Vendo o
inquebrantável zelo e a coragem deles, e notando quão abundantemente
Deus abençoou os esforços deles, temos maravilhoso incentivo também para
sermos fiéis e "dar testemunho a respeito do reino de Deus". - 28:23.