Caro irmão em Cristo,
Você tem o privilégio de
freqüentar um curso
superior, algo que não está
disponível para muitos
brasileiros como você.
Todavia, esse privilégio
implica em muitas
responsabilidades e em
alguns desafios especiais.
Um desses desafios diz
respeito a como conciliar a
sua fé com determinados
ensinos e conceitos que lhe
têm sido transmitidos na
vida acadêmica.
Até ingressar na
universidade, você viveu nos
círculos protegidos do lar e
da igreja. Nunca a sua fé
havia sido diretamente
questionada. Talvez, por
vezes, você tenha se sentido
um tanto desconfortável com
certas coisas lidas em
livros e revistas, com
opiniões emitidas na
televisão ou com alguns
comentários de amigos e
conhecidos. Porém, de um
modo geral, você se sentia
seguro quanto às suas
convicções, ainda que nunca
tivesse refletido sobre elas
de modo mais aprofundado.
Agora, no ambiente
secularizado e muitas vezes
abertamente incrédulo da
universidade você tem ficado
exposto à idéias e teorias
que se chocam frontalmente
com a sua fé até então
singela, talvez ingênua, da
infância e da adolescência.
Os professores, os livros,
as aulas e as conversas com
os colegas têm mostrado
outras perspectivas sobre
vários assuntos, as quais
parecem racionais,
científicas, evoluídas.
Alguns de seus valores e
crenças parecem agora menos
convincentes e você se sente
pouco à vontade para
expressá-los. Para ajudá-lo
a enfrentar esses desafios,
eu gostaria de fazer algumas
considerações e chamar a sua
atenção para alguns dados
importantes.
Em primeiro lugar você não
deve ficar excessivamente
preocupado com as suas
dúvidas e inquietações. Até
certo ponto, ter dúvidas é
algo que pode ser benéfico
porque o ajuda a examinar
melhor a sua fé, conhecer os
argumentos contrários e
adquirir convicções mais
sólidas. O apóstolo Paulo
queria que os coríntios
tivessem uma fé testada,
amadurecida, e por isso
recomendou-lhes:
“Examinem-se para ver se
vocês estão na fé; provem a
si mesmos” (II Co 13.5). As
dúvidas mal resolvidas
realmente podem ser fatais,
mas quando dão oportunidade
para que a pessoa tenha uma
fé mais esclarecida e
consciente, resultam em
crescimento espiritual e
maior eficácia no
testemunho. O apóstolo Pedro
exortou os cristãos no
sentido de estarem “sempre
preparados para responder a
qualquer pessoa que lhes
pedir a razão da esperança
que há em vocês” (I Pe
3.15).
Além disso, você deve
colocar em perspectiva de
afirmações feitas por seus
professores e colegas em
matérias de fé religiosa.
Lembre-se que todas as
pessoas são influenciadas
por pressupostos, e isso
certamente inclui aqueles
que atuam nos meios
universitários. A idéia de
que os professores e
cientistas sempre pautam as
suas ações pela mais
absoluta isenção e
objetividade é um mito. Por
exemplo, muitos intelectuais
acusam a religião de ser
dogmática e autoritária, de
cercear a liberdade das
pessoas e desrespeitar a sua
consciência. Isso até pode
ocorrer em muitos casos, mas
a questão aqui é a seguinte:
Estão os intelectuais livres
desse problema? A
experiência mostra que os
ambientes acadêmicos e
científicos podem ser tão
autoritários e cerceadores
quanto quaisquer outras
esferas da atividade humana.
Existem departamentos
universitários que são
controlados por professores
materialistas de diversos
naipes – agnósticos,
existencialistas e
marxistas. Muitos alunos
cristãos desses cursos são
ridicularizados por causa de
suas convicções, não têm a
liberdade de expor seus
pontos de vista religiosos e
são tolhidos em seu desejo
de apresentar perspectivas
cristãs em suas monografias,
teses ou dissertações.
Portanto, verifica-se que
certas ênfases encontradas
nesses meios podem ser
ditadas simplesmente por
pressupostos ou preconceitos
anti-religiosos e
anticristãos, em contraste
com o verdadeiro espírito de
tolerância e liberdade
acadêmica.
Você, estudante cristão que
se sente ameaçado no
ambiente universitário, deve
lembrar que esse ambiente é
constituído de pessoas
imperfeitas e limitadas que
lidam com seus próprios
conflitos, dúvidas e
contradições, e que muitas
dessas pessoas foram
condicionadas por sua
formação familiar ou
educacional a sentirem uma
forte aversão pela fé
religiosa. Tais indivíduos,
sejam eles professores ou
alunos, precisam não do
nosso assentimento às suas
posições anti-religiosas,
mas do nosso testemunho
coerente, para que também
possam crer no Deus revelado
em Cristo e encontrem o
significado maior de suas
vidas.
Todavia, ao lado dessas
questões mais pessoais e
subjetivas, existem
alegações bastante objetivas
que fazem com que você se
sinta abalado em suas
convicções cristãs. Uma
dessas alegações diz
respeito ao suposto conflito
entre fé e ciência. O
cristianismo não vê esse
impasse, entendendo que se
trata de duas esferas
distintas, ainda que
complementares. Deus é o
criador tanto do mundo
espiritual quanto do mundo
físico e das leis que o
regem. Portanto, a ciência
corretamente entendida não
contradiz a fé, elas tratam
de realidades distintas ou
das mesmas realidades a
partir de diferentes
perspectivas. O problema
surge quando um intelectual,
influenciado por
pressupostos materialistas,
afirma que toda a realidade
é material e que nada que
não possa ser comprovado
cientificamente pode
existir. O verdadeiro
espírito científico e
acadêmico não se harmoniza
com uma atitude estreita
dessa natureza, que decide
certas questões por exclusão
ou por antecipação.
Mas vamos a alguns tópicos
mais específicos. Você,
universitário cristão, pode
ouvir em sala de aula
questionamentos de diversas
modalidades: acerca da
religião em geral (uma
construção humana para
responder aos anseios e
temores humanos), de Deus
(não existe ou então existe,
mas é impessoal e não se
relaciona com o mundo), da
Bíblia (um livro meramente
humano, repleto de mitos e
contradições), de Jesus
Cristo (nunca existiu ou foi
apenas um líder
carismático), da criação (é
impossível, visto que a
evolução explica tudo o que
existe), dos milagres
(invenções supersticiosas,
uma vez que conflitam com os
postulados da ciência), e
assim por diante. Não temos
aqui espaço para responder a
todas essas alegações, mas
perguntamos: Quem conferiu
às pessoas que emitem esses
julgamentos a prerrogativa
de terem a última palavra
sobre tais assuntos? Por que
deve um universitário
cristão aceitar tacitamente
essas alegações, tantas
vezes motivadas por
preferências pessoais e
subjetivas de seus mestres,
como se fossem verdades
definitivas e
inquestionáveis?
O fato é que, desde o
início, os cristãos se
defrontam com críticas e
contestações de toda
espécie. Nos primeiros
séculos da era cristã,
muitos pagãos acusaram os
cristãos de incesto,
canibalismo, subversão e até
mesmo ateísmo. Foram
especialmente contundentes
as críticas feitas por
homens cultos como Porfírio
e Celso, que questionaram a
Escritura, as noções de
encarnação e ressurreição, e
outros pontos. Eles alegavam
que o cristianismo era uma
religião de gente ignorante
e supersticiosa. Em resposta
a esses ataques intelectuais
surgiu um grupo de
escritores e teólogos que
ficaram conhecidos como os
apologistas e os polemistas.
Dentre eles podem ser
citados Justino Mártir,
Irineu de Lião, Tertuliano,
Clemente de Alexandria e
Orígenes, que produziram
notáveis obras em defesa da
fé cristã.
Em nosso tempo, também têm
surgido grandes defensores
da cosmovisão cristã, tais
como Cornelius Van Til, C.
S. Lewis, Francis Schaeffer,
R. C. Sproul, John Stott e
outros, que têm utilizado
não somente a Bíblia, mas a
teologia, a filosofia e a
própria ciência para debater
com os proponentes do
secularismo. Além deles,
outros autores têm publicado
obras mais populares acerca
do assunto, apresentando
argumentos convincentes em
resposta às alegações
anticristãs. Dois bons
exemplos recentes são o
livro de Lee Strobel, Em
Defesa da Fé
(www.editoravida.com.br),
que possui um capítulo
especialmente instrutivo
sobre uma questão até hoje
não aclarada pela ciência,
ou seja, a origem da vida, e
o livro de Phillip Johnson,
Ciência, Intolerância e Fé
(www.ultimato.com.br), cujo
subtítulo já diz muito: “A
cunha da verdade: rompendo
os fundamentos do
naturalismo”. É importante
que você, universitário
cristão, leia esses autores,
familiarize-se com seus
argumentos e reflita de
maneira cuidadosa sobre a
sua fé, a fim de que possa
resistir à sedução dos
argumentos divulgados nos
meios acadêmicos.
Outra iniciativa importante
que você deve tomar é
aproximar-se de outros
estudantes que compartilham
as mesmas convicções. É
muito difícil enfrentar
sozinho as opiniões
contrárias de um sistema ou
de uma comunidade. Por isso,
envolva-se com um grupo de
colegas cristãos que se
reúnam para conversar sobre
esses temas, compartilhar
experiências, apoiar-se
mutuamente e cultivar a vida
espiritual. Muitas
universidades têm
representantes da ABU –
Aliança Bíblica
Universitária, e de outras
organizações cristãs idôneas
que visam precisamente
oferecer auxílio aos
estudantes que se deparam
com esses desafios. Não
deixe também de participar
da igreja onde você encontra
comunhão genuína e alimento
sólido para a sua vida com
Deus.
Em conclusão, procure
encarar de maneira
construtiva os desafios com
que está se defrontando.
Veja-os não como incômodos,
mas como oportunidades dadas
por Deus para ter uma fé
mais madura e consciente,
para conhecer melhor as
Escrituras, para inteirar-se
das críticas ao cristianismo
e de como responder a elas,
para dar o seu testemunho
diante dos seus professores
e colegas, por palavras e
ações. Saiba que você não
está só nessa empreitada.
Além de irmãos que
intercedem por sua vida,
você conta com a presença, a
força e a sabedoria do
Senhor. Muitos já passaram
por isso e foram vitoriosos.
Meu desejo sincero é que o
mesmo acontece com você.
Deus o abençoe!
|