Eles estão por toda parte.
Nas praças, alguns jogam
carta, outros caminham.
Sabendo do potencial deste
grupo, as empresas de
turismo estão investindo
pesado para atraí-lo. Nas
igrejas, eles organizaram os
seus trabalhos e fazem
muitas coisas positivas.
Cantam em corais, se reúnem
para fazerem trabalhos
manuais, visitam museus,
tomam chá e estudam a
Bíblia. As grandes
universidades descobriram há
muito tempo a importância de
tê-los bem perto e criaram
as ‘Universidades da
Terceira Idade’.
É claro que estamos falando
dos idosos. Se na década de
40, eles representavam
somente 0,7% da população
brasileira, hoje este
distinto grupo representa
2,5%. Segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) no
ano 2025, eles chegarão a 34
milhões, colocando nosso
país em 6º lugar no mundo em
população idosa.
E na família, como está o
relacionamento dos membros
mais jovens com os parentes
que já estão na chamada fase
da ‘terceira idade’? O que
se pode fazer para melhorar
este relacionamento? O que
significa ter um idoso
morando com os demais
membros da família?
Entrevistamos duas famílias
que convivem diariamente com
pessoas idosas. Eva, 75
anos, e Dolores, 72 anos,
vivem com suas filhas, Leda
e Bernadete, casadas,
respectivamente, com Joachim
e Luciano. Além das famílias
de Leda e Bernadete, ouvimos
a socióloga Maria Goreth
Santos e terapeuta de
família, Clenir Trindade.
Nas entrevistas, junto às
famílias, procuramos somente
conhecer seus cotidianos,
sem nos preocuparmos em
fazer nenhuma análise.
Goreth e Clenir, sem
conhecerem o teor das
entrevistas, dão conselhos
para os mais jovens e idosos
viverem melhor em família.
“No princípio, foi um pouco
difícil. Eu achava que era
um pouco rejeitada, mas com
o tempo fui me adaptando e
hoje eu sou feliz”, diz D.
Eva, como é chamada. Leda
admite que no início tenha
sido realmente difícil. “Eu
não esperava. As
dificuldades foram devido ao
desejo da minha mãe querer
interferir na educação dos
meus filhos e fazê-la
entender que era ela quem
morava comigo e não eu com
ela”, afirma.
Para não achar que está
incomodando, D. Eva muitas
vezes se refugia no seu
quartinho, embora isto não
seja imposição do casal. “Eu
a incentivo a estar na sala,
no quarto das crianças, mas
ela se sente melhor no seu
quartinho. Lá ela ouve o seu
rádio, costura e se sente
mais à vontade”, declara
Leda.
Para Joachim, o genro, tem
sido boa a relação com a
sogra. “Ela já mora conosco
há vários anos, e nos
relacionamos muito bem”,
confessa Joachim. D. Eva,
segundo o casal, colabora
muito para o dia-a-dia, da
casa. “Ela dá conselhos,
ajuda na cozinha, prega
botões, cuida das crianças
quando saímos”, diz Joachim.
Na família de Luciano e
Bernadete, a presença de
Dolores é desde o primeiro
dia do casamento. “Foi uma
adaptação a três, mas não
tivemos grandes problemas”,
afirma Bernadete. Na
educação dos filhos, segundo
Bernadete, sempre tem um
pouquinho de interferência.
“Como sabemos, a avó sempre
passa a mão na cabeça dos
netos, mas temos a
consciência de que a função
de educar é nossa”, declara
Bernadete.
D. Dolores ajuda na cozinha,
embora incomode um pouco sua
filha. “Nós procuramos
limitar o seu trabalho na
cozinha, querendo poupá-la,
mas é difícil convencê-la”,
admite Bernadete.
Para algumas famílias, o
relacionamento pode ser
difícil. Para outras não. O
que se pode fazer para que
idosos e demais membros de
uma família vivam em
harmonia?
“A aceitação de uma pessoa
da ‘Terceira Idade’ traz
consigo algumas mudanças e
pode dificultar a aceitação
na família”, afirma a
Terapeuta Clenir. Para ela,
relacionamentos frios, sem
respeito e distantes, numa
idade mais jovem, só irão
agravar as possibilidades de
dificuldades no futuro. “A
‘Terceira Idade’ não é uma
fase para se conquistar o
afeto da família e sim para
se usufruir de algo já
construído”, conclui. Por
isso, é importante, para os
mais jovens, construírem
desde já a harmonia
familiar. “Por outro lado,
os mais jovens devem
procurar compreender os
esquecimentos, os discursos
repetitivos, a demora do
raciocínio por parte dos
idosos”, aconselha Clenir.
“Se em algumas culturas
‘envelhecer’ é sinônimo de
aperfeiçoar-se, em outras,
ao contrário, a idade
avançada é considerada
sinônimo de decadência e se
discrimina o idoso,
principalmente por causa de
sua limitação física”,
analisa Goreth. Sobre as
limitações, “a família deve
conhecer os limites reais do
idoso e não ‘inventá-los’
para a sua própria
tranqüilidade”, complementa
Clenir. “A família que
reforça esse comportamento,
que deixa de incentivar o
seu membro da terceira idade
a realizar aquilo que ainda
está dentro das suas
condições, está fazendo o
maior mal àquele que procura
viver bem os anos que Deus
ainda lhe abençoa com vida”,
finaliza Clenir Trindade.
Uma outra boa iniciativa
para se viver melhor numa
família com a presença de um
idoso é ensinar as crianças
a respeitá-lo e valorizá-lo.
Não se esquecendo de que há
muito tempo a Bíblia já
afirmava que a idade
avançada nem sempre é
sinônimo de inatividade e
ostracismo. “Na velhice
ainda darão frutos, serão
viçosos e florescentes”, diz
o texto sagrado no livro dos
salmos 92.14. |