Adoradores em harmonia
Texto bíblico: Nm 1-10
Texto básico: Nm 1-10
Texto áureo: “O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça
resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; o SENHOR
levante sobre ti o seu rosto, e te dê a paz”.
O livro de Números pode ser considerado como o livro dos levitas, assim
como o de Levítico pode ser considerado o livro dos sacerdotes. No texto
hebraico, seu nome é bemidbar e significa “no deserto”, uma alusão ao
ambiente da peregrinação do povo de Israel rumo a Canaã. O nome Números,
por sua vez, está relacionado ao recenseamento do povo por Moisés,
ordenado por Deus, para a defesa contra os possíveis inimigos que
enfrentariam (1.3) e para a organização social do povo (2.2) e do culto
(3.6-8). Vaulx, afirma que o conjunto, aparentemente desconjuntado, do
conteúdo de Números atende ao propósito de mostrar que a história de
Israel e a história da salvação “não são simples acontecimentos do
passado, mas são sempre contemporâneos (...) que a história da salvação
interessa a todos, e que é hoje que eles precisam fazer a vontade de
Deus”. Para nosso propósito nesta série de estudos vamos dividir o texto
de Números em Três momentos: adoradores em harmonia (1-10), adoradores
em conflito (11-20) e, finalmente, adoradores jubilosos (21-34).
DEUS ESCOLHE SEUS MINISTROS – ADORADORES
O livro de Números começa com a organização da estrutura militar do povo
de Israel, para o que são convocados todos os homens maiores de 20 anos
e que sejam “capazes de sair à guerra” (1.3). A expressão se repetirá 13
vezes neste capitulo. Era um indicativo dos propósitos de conquista que
animava aquela peregrinação. A soma total dos guerreiros de Israel
chegou ao impressionante número de 603.550 homens (1.43; Ex 38.26; Nm
26.51). Considerando-se que o censo restringiu-se a guerreiros acima dos
20 anos e aptos para a guerra, excluindo assim os menores de 20 anos, as
pessoas fisicamente incapacitadas, as mulheres e os anciãos, quando
estes são considerados, o número dos hebreus no deserto poderia
alcançar, pelo menos, uns 2 milhões de almas.
Contudo, é interessante notar que Deus não dá maior importância ao
formidável exército de 600 mil homens. Sua atenção especial fica
reservada à companhia de adoradores que caminhava em meio a essa tropa.
Enquanto somente o capítulo primeiro do livro trata do exército,
praticamente os nove capítulos seguintes se ocuparão com diferentes
instruções atinentes ao corpo de levitas encarregados dos afazeres do
culto, embora estes somassem apenas 22 mil homens, de um mês para cima
(3.15,28,34,39,40,43). Dois fatos devemos destacar nesse recenseamento
dos levitas. O primeiro é que dois dos filhos de Arão não foram
contados: Nadabe e Abiu, que “ofereceram fogo estranho perante o Senhor”
(3.4; Lv 10.1,2). Lembra a Israel o perigo de apresentar a Deus um culto
indevido. Há relatos de falsa adoração nas Escrituras. Por exemplo, o
caso dos samaritanos do século VIII antes de Cristo, que “temiam ao
Senhor e, ao mesmo tempo, serviam aos seus próprios deuses, segundo o
costume das nações dentre as quais tinham sido transportados” (2Rs
17.33). Ou, ainda, os judeus a quem Paulo acusou de ter “zelo de Deus,
porém não com entendimento” (Rm 10.2). O segundo fato é a contagem dos
levitas a partir de um mês de idade. Lembrem-se a importância da criança
no culto. Deus se agrada do louvor dos pequeninos (Sl 8.2; Mt 21.16).
DEUS DISCIPLINA SEUS MINISTROS – ADORADORES
Um aspecto interessante em todo o Pentateuco, e particularmente no livro
de Números, é o da disciplina requerida por Deus do povo de Israel, a
começar pelos líderes. Ainda que a leitura de um texto com capítulo 2
pareça um tanto insossa, vale a pena ler para que se tenha uma idéia da
organização e da disciplina com deviam se portar. Como afirmou o
apóstolo Paulo, nosso Deus “não é de confusão” e requer que tudo seja
feito diante dele “com decência e ordem” (1Co 14.33,40). Quer acampado,
quer em marcha, o povo de Israel devia manter aquela organização
estabelecida também na hora de consagrar ofertas (7.11).
Uma novidade é acrescentada no tocante à celebração da páscoa: o que se
achava imundo e o que estivesse em viagem. O assunto é apresentado a
Moisés. Este havendo consultado a Deus em oração, foi orientado a que,
nesse caso, o indivíduo poderia celebrar sua páscoa no mês seguinte,
observando-se as mesmas condições da anterior (9.1-12; Ex 12.8,12,46).
Outra novidade diz respeito ao que, deliberadamente e sem motivo legal,
se abstém de participar: ser eliminado da congregação (9.13). Assim como
era pecado participar da páscoa estando impuro, era pecado não
participar estando puro.
Deus deu ainda a Moisés instrumentos musicais para a convocação do povo:
duas trombetas de prata (10.1-10). Tocando as duas, a convocação seria
para todo o povo. Tocando uma só, a convocação seria restrita aos
líderes. Com elas Moisés instruiria a partida dos diferentes grupos de
acampantes em sua peregrinação, respeitando a formação indicada no
capítulo 2. Mesmo nas festas e nos sacrifícios as trombetas seriam
tocadas, pois “serão por lembrança perante vosso Deus”.
DEUS COMUNGA COM SEUS MINISTROS – ADORADORES
Todo essa detalhamento da maneira como a congregação de Israel deveria
conduzir-se, fosse na marcha em direção à terra prometida, fosse nas
interrupções da marcha para adorar a seu rei Jeová, tudo estava
meticulosamente especificado. O capítulo 7 conclui, então, com uma nota
compensadora: “quando entrava Moisés na tenda da congregação para falar
com o SENHOR... ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório...”
(7.89). A voz do SENHOR ressoava ali como uma resposta à fidelidade do
povo em obedecer a cada detalhe das instruções dadas por Deus. Este
padrão: bênção divina/reação humana em fé/maior bênção – é básica (sic)
na teologia do Antigo Testamento. Os sacrifícios do povo de Israel não
foram em vão, o calvário agora substituiu o altar de bronze como lugar
de sacrifício (Hb 9 e 10), mas os crentes devem ainda reagir à graça de
Deus entregando-se a ele, entregando-lhe também o seu dinheiro para
manter o ministério do evangelho (Rm 12.1; 1Co 9.3).
APLICAÇÕES PARA A VIDA
1. O adorador não pode adorar como lhe convém, mas observando as
instruções da Palavra de Deus. Está em vigor, em muitas congregações, o
sensualismo no culto. Ritmos e movimentos usuais em clubes e salões
mundanos são introduzidos sem nenhuma crítica. Concordamos com Costa
quando diz que “as expressões de adoração vão além da música, podendo
ser utilizadas outras formas artísticas, como dança, teatro, coreografia
e artes plásticas”, e que “a igreja não pode permanecer alheia à mudança
inevitável do pensamento humano”, mas insistimos em que , como diz o
apóstolo Paulo, examinemos tudo – inclusive os variados ritmos e as
diferentes formas de expressão artística aplicáveis à adoração – mas
retenhamos somente o que é bom (1 Ts 5.21; 1Jo 4.1).
2. O capítulo 9 trouxe à luz uma questão de duplo aspecto: o
pecado por participar da páscoa, estando impuro, e o de não participar,
estando puro. A ceia do Senhor, de certa maneira, guarda, para nós
cristãos, o significado da páscoa. Esta recordava a Israel sua redenção
do cativeiro do pecado. A orientação apostólica à igreja em Corinto (1Co
11.17-34) é que o indivíduo deve examinar-se a si mesmo antes de
participar, para que não venha a comer sem discernir (sem estar
consciente) do corpo (do sacrifício de Cristo). Só não deve participar
da ceia do Senhor aquele que ainda não confessou Jesus Cristo como seu
Salvador e Senhor, posto que seria celebrar uma comunhão inexistente
para si mesmo.
3. Com relação às trombetas de convocação (10.1-10), usadas por
muitos povos para organizar seus exércitos para batalhas – e ainda hoje
usada nos quartéis – vale transcrever o comentário de Wenhan: “Na Europa
e nos países de influência católica, os fiéis tradicionalmente têm sido
chamados à adoração por sinos das igrejas, mas no último dia os eleitos
serão mais uma vez convocados ’com grande clangor de trombeta’ e ‘os
mortos ressuscitarão incorruptíveis’ (Mt 24.31; 1 Co 15.52; Ap 8 e 9)”.