Texto: Efésios 1. 1-2
Introdução
Como agência do Reino de
Deus na terra, a Igreja do
Senhor (e isso significa
cada cristão, inclusive eu e
você) possui uma
responsabilidade social. O
cristão vive tanto na igreja
quanto no seu mundo e tem
responsabilidades para com
ambos.
A tendência geral da igreja
tem sido a de
“eclesiastizar” seus
membros, tornando-os meros
cumpridores de programas ou
freqüentadores de reuniões.
Em geral, nossa
evangelização visa “tirar o
homem do mundo”, mas nos
esquecemos que devemos
devolvê-lo ao mundo,
transformado, com novas
convicções e novos padrões.
Este é o pensamento que
transparece em toda a carta
de Paulo aos Efésios, onde o
apóstolo mostra aos seus
leitores que a nova vida que
eles receberam em Cristo
(capítulos 1, 2 e 3) os
obriga a uma nova conduta
perante a sociedade
(capítulos 4, 5 e 6). Isto
significa que a Igreja deve
repensar sua atuação na
sociedade, como instrumento
de transformação da
realidade social que a
cerca.
O trato deste assunto, tem
levado os crentes a se
dividirem em três grupos:
1.
Os que pregam um evangelho
espiritualizante,
sem se preocupar nem se
envolver com questões
sociais, acreditando que o
ato simplista de “aceitar
Jesus” resolverá todos os
problemas do indivíduo;
2.
Os que pregam um evangelho
social, que se
preocupa com os problemas
materiais e omite a
necessidade de uma conversão
verdadeira, que transforme a
natureza do homem;
3.
Os que entendem que o
evangelho modifica o homem
em sua natureza,
através da verdadeira
conversão, para que este
possa influenciar
positivamente o seu mundo.
É precisamente neste
terceiro grupo que queremos
nos posicionar. Desejamos
ser igreja que fale à alma
sem se esquecer do corpo, e
que cuide dos problemas
sociais que afligem o homem
sem perder de vista a grave
realidade espiritual que o
escraviza.
I –
Definindo Termos
Bruce L. Shelley, em seu
livro “A IGREJA: O POVO DE
DEUS” (Edições Vida Nova)
estabelece uma distinção
entre Preocupação Social,
Serviço Social e Ação
Social, que considero
importante para nortear
nosso estudo acerca deste
assunto. Vejamos como ele
define cada um desses
termos:
•
“A
PREOCUPAÇÃO SOCIAL
é uma atitude. É a percepção
por parte do Cristão de que
a salvação é dirigida ao
homem inteiro. Trata-se do
reconhecimento da aplicação
do evangelho aos ferimentos
e fomes do homem, assim como
à sua culpa”
•
“O SERVIÇO
SOCIAL refere-se
a todos os serviços que as
igrejas ou os cristãos
prestam a fim de assistir as
vítimas de problemas
sociais...”
•
“A AÇÃO
SOCIAL é mais
ampla. Seu alvo é corrigir
as estruturas e processos
sociais e políticos de uma
sociedade que provocam os
problemas...”
A grande maioria das
igrejas, e crentes
individualmente, demonstra
“preocupação social” através
da oração pelos problemas
sociais que afligem o mundo.
Esta preocupação é legítima
e incentivada na Bíblia (I
Timóteo 2:1-3). Bem menor,
porém, é o número de igrejas
e crentes que desenvolvem
algum tipo de “serviço
social”. Este serviço também
é incentivado e acha apoio
na Palavra, principalmente
no exemplo dos primeiros
cristãos (Atos 9:36; I
Coríntios 16:1-3). O maior
problema hoje, entretanto,
está na “ação social”. É
muito raro ver igrejas ou
crentes verdadeiramente
envolvidos numa ação social.
Em geral a igreja se omite e
mesmo desencoraja seus
membros acerca de
envolvimentos em causas
políticas que visem
modificar ou mesmo derrubar
estruturas injustas. No
entanto, esta atitude também
está presente na Palavra.
Muitos servos do Senhor no
passado estiveram envolvidos
em ação social, confrontando
governantes ou mesmo se
rebelando contra governos
injustos (Exemplos: Joiada,
o sacerdote, que fez aliança
com os capitães, para
derrubarem a usurpadora
Atalia, a fim de
estabelecerem Joás como rei
de Judá – II Crônicas 23;
Daniel, em Babilônia;
Neemias, em Judá; José, no
Egito; entre outros).
Como igreja do Senhor, somos
chamados não apenas a
desenvolver uma preocupação
social e para prestar
serviços sociais, mas também
para uma ação social
efetiva. Este, porém não é
um caminho fácil.
II
– Fatores que impedem a
Responsabilidade Social da
Igreja
Muitos são os fatores que
impedem um maior
envolvimento da igreja com
as questões sociais, e vão
desde a falta de compromisso
dos crentes até a falta de
conversão verdadeira. Porém,
dois fatores merecem
destaque: o fanatismo
religioso e a religião
secularizada.
A)
O Fanatismo Religioso
O homem religioso á aquele
que aprendeu a valorizar os
significados espirituais que
possui dentro de si. Porém,
quando esses significados
passam a tomar sentido tão
elevado, ao ponto de fazê-lo
se esquecer ou ignorar as
outras áreas de sua vida,
surge então o Fanatismo. A
isso também chamamos de
ALIENAÇÃO
SOCIAL. Vejamos o
caminho que a mente
religiosa percorre até se
tornar alienada:
1. Ocupação demasiada
com atividades que não
possuem relação com a vida
humana (quando a igreja
perde seu tempo e investe
esforços em ativismo vazio e
improdutivo).
2. O uso da religião
como instrumento “mágico” de
proteção contra os problemas
da vida comum (“Se você for
um cristão comprometido e
assíduo, nenhum mal vai lhe
atingir!”).
3. A hipervalorização
das experiências religiosas
acima dos demais valores da
vida humana (Os pais que
obrigam os filhos a
freqüentar a igreja, mas
nunca dialogam com eles)
A alienação social é ainda
motivada por dois fatores:
1º) medo de castigos
espirituais caso não sigam
todas a orientações da
igreja (ou particularmente
do seu líder espiritual); e
2º) Fascinação descontrolada
pelas coisas espirituais,
que impede a pessoa de
enxergar outras áreas da
vida.
Uma igreja alienada nunca
desenvolverá uma mentalidade
social, pois sua religião se
resume a experiências
espirituais vazias (Tiago
1:26,27; 2:14-17)
B)
A Religiosidade Secularizada
Chamamos de secularização o
processo pelo qual a
religião tem perdido sua
influência em determinados
setores da sociedade e da
cultura. É a religião em
declínio por não exercer
influência na vida comum.
Essa falta de influência da
religião sobre a vida comum
gera uma perda de
credibilidade da própria
religião perante a sociedade
que por sua vez leva àquilo
que chamamos de
CRISE DE
PAUSIBILIDADE, ou
seja, a mensagem da igreja
deixa de ser algo plausível,
concreto, motivador de
transformações, e passa a
ser algo vazio e
completamente dispensável.
O maior fator gerador dessa
crise de plausibilidade é a
restrição do campo de
atuação da igreja. Ou seja,
quando a igreja se esquece
de seu compromisso com a
sociedade e seus problemas e
passa a atuar apenas no
campo individual/familiar
(por exemplo: toda a
atividade da igreja se
resume a visitinhas sociais
e reuniõezinhas familiares;
o pastor passa a ser um
“servidor” das famílias,
solicitado constantemente
para resolver probleminhas
domésticos; etc.).
O grande problema neste
ponto é que esses valores
“privados” são considerados
irrelevantes em contextos
institucionais diferentes
dos da família (Por exemplo:
que relevância tem uma
briguinha entre irmãos
adolescentes diante de
problemas como o abandono de
menores, a prostituição
infantil e o crescente
consumo de drogas entre
crianças e adolescentes nas
escolas?). Jesus não perdia
tempo com probleminhas
particulares, porque sua
missão era muito mais ampla
e urgente (confira: Lucas
12:13-15).
Uma igreja secularizada,
cujos membros só se
preocupam com seus próprios
problemas, nunca
desenvolverá uma mentalidade
social responsável.
III
– A Igreja Santa e
Socialmente Responsável
Para desenvolver uma
mentalidade social
responsável a igreja terá
que, primeiramente, evitar
tanto o
FANATISMO quanto
a
SECULARIZAÇÃO.
Isso significa que deve
manter a sua santidade sem
se tornar socialmente
alienada. Evidente que isso
não é uma tarefa fácil,
porém é possível! Sugerimos
algumas atitudes:
1.
Uma pregação fiel
da Palavra de Deus, sem
experiencialismos
subjetivos;
2.
Uma ênfase maior na vida
piedosa responsável;
3.
A redescoberta e o exercício
fiel dos dons espirituais;
4.
A busca por uma vida
controlada pelo Espírito
Santo (em todas as áreas);
5.
Uma maior abertura para a
discussão das questões
sociais que afligem a
sociedade.
Superadas essas barreiras
(ou pelo menos iniciados
esses passos), a Igreja
estará pronta para um
envolvimento social
responsável. Seus membros
poderão envolver-se em
serviços sociais produtivos
e também estarão aptos para
uma Ação Social responsável,
através de uma influência
positiva nas estruturas,
capaz de transformá-las em
instituições mais justas.
Isso vai desde a
participação em conselhos
escolares, associações de
bairro, conselhos
consultivos, programas
sociais voluntários, até uma
participação política
efetiva e responsável. Assim
a Igreja será
verdadeiramente Sal e Luz
neste mundo.
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