Adoração e justiça
Texto bíblico - Dt 1-13
Texto básico – Dt 1-13
Texto áureo – “Mas de lá buscarás ao SENHOR teu Deus, e o
acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma”.(Dt
4.29)
O termo Deuteronômio, que intitula o quinto livre do Pentateuco, do qual
nos ocuparemos nestas últimas lições do trimestre, vem do grego deutero:
segundo, e nomos: derivado de uma tradução incorreta da lei, da
expressão misnêh hattôra: repetição da lei ou, simplesmente, misnêh:
repetição, que ocorre em 17.18, dando a idéia de uma segunda (nova) lei.
Não significa, entretanto, uma mera repetição da lei, mas indica que o
livro se ocupa de reunir a legislação dada por Deus a seu povo,
aplicando-a, agora, à nova realidade do povo, a partir da conquista da
terra prometida. Entre os hebreus o livro era conhecido pelo título
elleh haddebarîm (palavras). Alguns rabinos o chamavam seper tôkãhôt:
livro das admoestações.
REVISÃO DA HISTÓRIA
O livro de Deuteronômio começa com uma revisão da história dos 40 anos
de peregrinação (1.3) dessa comunidade de adoradores de Israel, rumo à
terra prometida. O objetivo seria trazer à memória do povo as
experiências do passado, de modo que essa nova geração pudesse
acautelar-se e não se desviar de fazer a vontade de Deus. Mesquita nos
lembra que a história é uma boa mestra, embora muitos não lhe dêem
atenção.² Nós nos julgamos sempre imunes aos males que alcançaram a
outros, ainda vivendo as mesmas situações. A revisão da história visava
advertir o povo de que o Deus, com o qual tinham aliança, não conhecia
outro igual a ele (4.32-35), que era Deus único (6.4) e SENHOR Soberano
dos Céus (10.14) Ele havia tirado Israel da fornalha de fogo do Egito,
para que lhe tornasse povo de herança, como hoje se vê (4.20; 5.3).
Embora seja um Deus que se lembrava sempre de sua aliança com Israel,
ele é Deus zeloso, um fogo que consome (4.24), e não tolerará a
desobediência à sua lei (4.39-40; 5.1).
Em nota melancólica, Moisés declara haver rogado a Deus que lhe desse um
“indulto” e permitisse sua entrada na terra, mas Deus apenas lhe
concedeu ver, ao longe, desde o Monte Pisga, a terra onde o povo
habitaria (3.23-29; 4.21,22). Não há argumentos do homem que possam
mudar a pena pelo pecado. Nem mesmo a impressionante obra de Moisés na
liderança de Israel foi suficiente. Obras não salvam (Ef 2.8-10; 1jo
1.9). Por outro lado, a oração não atendida de Moisés nos ajuda a
compreender que devermos crer no cumprimento das promessas de Deus,
ainda que não o experimentemos fisicamente. A promessa de Deus não havia
sido de dar a Moisés, como indivíduo, herança na Canaã; a promessa era à
descendência de Abraão (Gn 13.14-18; Ex 23.20-33; Dt 34.4). Agora,
Moisés podia ver a promessa cumprindo-se, e isso devia bastar-lhe. Deus
tinha, para ele, planos ainda mais excelentes. O desejo maior de Moisés
(Ex 33.18) se cumpriria. Ele veria a glória de Deus, face a face, para
sempre (34.5-7).
VIDA PARA OS ADORADORES
Moisés continua a recordar ao povo os episódios da longa viagem e lhes
narra as circunstâncias em que se deu a doação da lei (4.41-49). Faz uma
recapitulação sumariada da mesma (5.1-21) e passa a explicar os
objetivos a que se propunha tal legislação que, de modo bem sintético,
podem ser expressos assim: “Andareis em todo o caminho que vos manda o
SENHOR, vosso Deus, para que vivais, bem vos suceda, e prolongueis os
dias na terra que haveis de possuir” (5.33). O adorador não vive pela
adoração em si. A vida está na obediência a Deus. Já tivemos a
oportunidade de ver situações em que adoradores foram consumidos pelo
fogo (lições 4 e 9) por não obedecerem à vontade de Deus. Na obediência
a Deus, Israel encontraria vida, prosperidade e paz (6.1-3).
Prestemos atenção para o fato de que, no ensino de Jesus à mulher
samaritana, não se diz que Deus busque adoração, mas sim, adoradores. E
acrescenta: “gente comprometida, consagrada e dedicada a render-lhe
adoração”. E mais adiante: “O verdadeiro adorador reconhece que tem de
viver prostrado diante do trono de Deus em reconhecimento à grandeza do
Rei dos reis e Senhor dos senhores”. Isso traduz e atualiza o discurso
de Moisés às margens do Jordão. Ele sabia que Canaã era o lugar que Deus
havia preparado para os seus eleitos, para ali o adorarem em santidade e
amor. Mas sabia também do risco de contaminação moral e espiritual que
correria o povo hebreu, se tão-somente lhe fosse permitido conviver com
o paganismo e a imoralidade dos habitantes da região (4.15-19,23; 7.1-7;
8.1-18). Em guardar fidelidade ao Senhor, a comunidade de adoradores
encontra vida abundante.
EXCLUSIVIDADE PARA OS ADORADORES
Canaã havia sido separada por herança à descendência de Abraão há mais
de 500 anos (Gn 12.1-3). Falhas na conduta e na fé levaram Abraão e sua
descendência depois dele a peregrinar e, posteriormente, fixar
residência no Egito por longos 400 anos (Gn 15.13; Ex 12.41). Agora,
havendo o Senhor conduzido a descendência de Abraão de volta à Canaã, a
terra que estava ocupada por muitos povos haveria de ser desocupada. Os
hebreus não deveriam fazer alianças com os povos cananeus, porque tais
alianças implicariam adotar também as suas práticas, inclusive
religiosas (Dt 12.29-32; Ex 34.10-17). Deus esperava de Israel
exclusividade no culto, por isso, queria dar-lhe exclusividade na posse
da terra.
Para preservar seu povo da corrupção, Deus mesmo limparia a terra
(9.3-5) que lhes havia de dar. Em vista disso, o povo deveria servir ao
Senhor: “... de todo o teu coração e de toda a tua alma” (10.12). Em
Canaã, o povo estaria completamente na dependência de Deus para colher o
fruto da terra, visto não haver ali os canais de irrigação que havia no
Egito (11.10-17). Por isso, o mais seguro era destruir toda e qualquer
possibilidade de desvio doutrinário e corrupção do culto (12.1-3). Assim
como Deus havia reservado lugar para habitação do povo de sua eleição,
também designaria um lugar para que o povo o adorasse (12.5,13-14). Um
lugar central para o culto e uma liturgia previamente determinada pelo
próprio Deus seria importante para manter a unidade do povo.
ALEGRIA PARA OS ADORADORES
É detalhe merecedor de nossa atenção: Deus provê alegria para os seus
adoradores (12.7,12,18; 14.26; 16.11-15; 26.11; Lv 23;40). Que diferença
da situação antiga, sob a servidão no Egito (Ex 2.23-25; 3.7-9; 4.6-14)!
Quando estamos na comunhão com o SENHOR, encontramos a mais completa
alegria. Não há lugar para tristeza diante do trono. Se houver algum
pesar turvando o nosso gozo, a confissão de pecados e a certeza do
perdão restauram a alegria (Is 35.10; 51.11). A alegria caracteriza a
nação de adoradores, cuja vida é sempre um hino de louvor ao nosso Deus.
APLICAÇÕES PARA A VIDA
1. Peçamos a Deus revestimento do Espírito, plenitude dele em nós para
que possamos, com alegria, sujeitar-nos a ele e fazer a sua vontade (Gl
5.16,24,25).
2. A propósito da atitude que Deus espera de seus adoradores, podemos
sintetizar em uma o que Deus esperava de Israel e espera de nós: “Se a
adoração não nos impulsionar para maior obediência, ela não é adoração”.
3. A alegria do verdadeiro adorador pode e deve ser expressa no culto,
seja este privado, seja comunitário, mas sempre de modo racional e com
mente renovada (Rm 12.1,2). A renovação da mente, pela obra do Espírito
Santo, inclui renovação do conceito de alegria. Israel devia cuidar-se
de não apresentar seu culto nos moldes dos rituais cananeus (12.29-32).
Nós não devemos apresentar ao Senhor um culto segundo os padrões
daqueles que, ao nosso redor, celebram aos deuses da sensualidade, da
lascívia e da luxúria. Ordem e decência devem caracterizar nossa
adoração (1Co 14.33,40).