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NÚCLEO DE APOIO CRISTÃO

 

Teatro

Peças Teatrais

 
 

O TELEFONEMA

 

ÉPOCA: ATUAL
PERSONAGENS: ED, ANABELLA, ANA CLARA, ROBERTO


ATO I


CENA I

Cenário: Quarto de Ed.

(Entra Ed, trazendo consigo uma flor e um porta retrato).

Ed: (Com ar de apaixonado) Anabella! Anabella! (Suspirando) Que olhos!... E que cabelos! (Apalpando o porta retrato como se estivesse tocando-a) E que pele! (A cada pausa um beijo) Você ainda... vai ser... minha... Anabella! Escutou? Minha!

(Ed troca o porta retrato por um travesseiro. Abraça-o forte como se fosse a amada).

Narrador: Como vocês podem perceber nosso amigo Ed nutre uma paixão desmedida por uma garota. E que pelo jeito não é correspondida.
Ed: (Infantil) Anabella! Mas como você é bela!
Narrador: Pior, esta paixão está o deixando até doente.

(Ed senta-se no chão. Deixa a “namorada” jogada ao lado. Fica cabisbaixo).

Ed: Ninguém me ama! Eu sou irremediavelmente feio. Só pode ser isso! Ninguém dá bola pra mim.
Narrador: Não é difícil saber quem é que adora quando nos encontramos nesse estado.
Ed: (Numa falsa alegria) Eu não posso ficar assim! (Pouco convincente) Eu sou vencedor!
Narrador: (Irônico) Com essa determinação não sei se vai muito longe.
Ed: Vou orar!
Narrador: Taí uma boa idéia!

(Ed imita estar fechando a janela. Depois vai até uma falsa porta. Verifica se tem alguém se aproximando. Faz que tranca a porta).

Narrador: Parece que Ed está querendo orar em secreto.
Ed: (Olhando para o céu) Senhor, agora é só eu e Você. (Apanhando o travesseiro) Ah, e a Anabella também. (Ajoelha-se abraçado ao travesseiro). Senhor, eu quero te fazer um pedido. Sei que já é pela milésima vez que eu peço. E Tu já sabe qual é o meu pedido. Preciso de uma namorada. Mas eu não quero qualquer uma, eu quero a Anabella. Só a Anabella me fará feliz. A Anabella precisa ser minha. Eu só tenho olhos para a Anabella. Dá a Anabella pra mim, Senhor. (Pensativo) Hum! Acho que estou sendo um pouco egoísta. (Prosseguindo a oração) Senhor, eu quero ser da Anabella. Que ela ore para que eu tome coragem para pedi-la em namoro. Acho que era só isso! Amém!
Narrador: Oração típica de um guerreiro inexperiente. Despejou palavras... Oração que correm o risco de jamais serem atendidas.
SONOPLASTIA: Telefone
Ed: (Resmungando) Deve ser a Anabella! Pensamento positivo, Ed! É a Anabella!
Narrador: Isto que é fé. Anabella nem ao menos deve saber o número dele.
(Ed tosse. Arma-se para atender o telefone. Desiste. Arruma-se todo. Penteia o cabelo. Até borrifa um pouquinho de um líquido para melhorar o hálito).
Ed: Alôôôô!
Roberto: (Microfone) Que voz é essa, Ed? Não estou te reconhecendo, rapaz! Não sei não, hein!
Ed: Não enche, Roberto! Pensei que fosse outra pessoa.
Roberto: Tenho novidades para você.
Ed: Novidades. (Tapando o telefone) É sobre a Anabella. Certeza! (Prosseguindo a conversa ao telefone, demonstrando falta de interesse) Novidade?
Roberto: Prepare teu coração. É melhor você se sentar. É sobre a Anabella.
Ed: (Entusiasmado) Anabella? Conta logo, cara! (Para si mesmo) Eu sabia! Valeu o pensamento positivo!
Roberto: Na verdade são duas.
Ed: Duas? Melhor ainda.
Roberto: Vai com calma! Uma é boa...
Ed: A outra é melhor ainda.
Roberto: Não! A outra é péssima. Qual você quer primeiro?
Ed: Por que será que na vida tudo tem que ser sempre assim! (Pequena pausa) Vai! Primeiro a boa. Quanto a péssima, eu já estou acostumado.
Roberto: (Fazendo suspense) Anabella... (Interrompe) Mas, trocando de assunto. Que jogão de bola ontem, hein!
Ed: Cara, não enche! Tá querendo me matar de aflição!
Roberto: Tá preparado?
Ed: Vai logo!
Roberto: A Anabella... Prepare os foguetes... Ela desmanchou com o Renato.
Ed: Iupi! Você aguarda um pouquinho na linha! Um momentinho só!

(Ed larga o telefone e ajoelha-se).

Ed: (Orando) Obrigado, Jesus! Tinha certeza que minha oração seria atendida.

(Ed apanha novamente o telefone).

Ed: Ela terminou o namoro com o Renato, jura? Me conta mais veio! Você merece um beijo.
Roberto: Dispenso. Preparado para a ruim?
Ed: (Em transição de feliz para preocupado) A ruim? A ruim não deve ser tão ruim trágica assim! A boa já me valeu o dia!
Roberto: A Anabella começou namorar com o André.
Ed: Não pode ser!
Roberto: Pode sim!
Ed: Não pode ser! Com ele não. Até aquele... aquele... Mas ele é um pilantra! Coitinha dela! Garanto que ele iludiu a pobrezinha! Mas como ela á ingênua!
Roberto: Olha quem fala! Eu lamento! Suponho que não queira mais conversa por hoje. Tchau!
Ed: (Largando o telefone) Anabella! (Olhando para o céu) O Senhor não se sensibiliza? Não vê que estou sofrendo?

(Cabisbaixo, Ed sai de cena).

Narrador: Pois é, o Ed não aprende mesmo. E o pior: pensa que a culpa é de Deus. A Anabella tem pinta de que não é o tipo de pessoa que o Senhor “sonhou” para Ed. Menina namoradeira, já terminou com o Douglas, o Filipe, o Beto, o Tony e agora com o Renato. Pior á que esta lista é apenas desta quinzena! Tenho a impressão de que se a oração de Ed fosse atendida, no mínimo lhe resultaria em dor de cabeça – ou, talvez, do coração. Anabella nunca apreciou um relacionamento sólido. Ela adora mesmo é, como dizem por aí, “ficar”!



CENA II

(Ed entra. Demonstra estar aflito. Olha para o céu, sem firmar o olhar volta a olhar para chão ).

Ed: (Tímido) Senhor, Você ainda está aí? (Arrependido) Eu não queria ter dito aquilo. Sei que errei. Também não deveria ter usado aquele tom de voz com Você. Gostaria que me perdoasse. Pai, Você sabe que me descontrolo só de imaginar a Anabella nos braços de outro. Paizinho, eu quero ela para mim. Será que é pedir demais? Será que isso não está ao seu alcance?
Narrador: (Como se dirigisse a Ed) Hei! Você já experimentou perguntar ao Senhor se é a Anabella quem Ele preparou para você?
Ed: (Assumindo a fala do narrador como se fosse de sua consciência) Que idéia mais besta! É claro que a Anabella é a pessoa ideal para mim. Afinal, Deus sempre quer o melhor para os seus filhos.
Narrador: E se não for?
Ed: (Depois de breve pausa) Claro que é! (Tapando os ouvidos) Isso só pode ser a voz do inimigo tentando me ver triste. Logo hoje que eu tenho certeza que a Anabella vai me convidar para tomar sorvete. (Noutro tom) Já sei! Vou ler a Bíblia!
Narrador: Parabéns! Finalmente uma boa idéia. Você está começando a querer trilhar o caminho certo.

(Ed vai a cata de sua Bíblia. Vasculha todo o quarto. Procura nos lugares mais absurdos).

Ed: Onde está ela? Eu tinha certeza que havia deixado aqui. (Procurando em outro lugar) Aqui não! (Idem) Aqui também não.
Narrador: Pelo visto a vida de Ed não está mais organizada que seu quarto.

(Ed encontra a Bíblia. Sopra nela para tirar uma espessa camada de pó).

Ed: Faz um bom tempo que eu não me aplico a leitura. (Tossindo pelo excesso de pó) Cof! Cof! Cof!
Narrador: (Irônico) Não é de se admirar tamanha desorientação!

(Ao folhar a Bíblia, Ed deixa cair uma foto).

Ed: (Surpreso) O que será que a foto da Ana Clara está fazendo aqui?
Narrador: Mas que confusão! Quantas “Anas” existem na vida de Ed?
Ed: (Fechando os olhos como que para voltar no tempo) Ana Clara! Sem dúvida foi a garota mais linda pela qual eu me apaixonei. (Fechando os olhos abraça a foto)
Narrador: Ana Clara foi uma antiga paixão. E quanto ele orou para namorar com ela. Mas sempre aquela mesma oração vazia. Colocava nome a futura namorada, não deixando Deus agir pela sua soberania. Isso só poderia resultar em uma oração não respondida. E a vida sentimental continuava sendo abalada. Ed havia tomado coragem. Estava pronto para declarar seu amor, quando...
Ed: Você tinha que ter ido embora.
Narrador: Ana Clara mudou-se para uma cidade distante. Sem ao menos desconfiar dos sentimentos de Ed.
Ed: (Arrependido) O que estou fazendo? (Guardando a foto na Bíblia) Desculpa Ana Clara... digo... Ana... Anabella! Eu não quero ser infiel!

(Ed fica alguns segundos em silêncio. Abre novamente a Bíblia. Dá uma última olhada na foto. Suspira, como se a paixão estivesse para retornar. Fecha a Bíblia. Arrependido, deixa o Livro em qualquer canto).
(Ed sai de cena)

Narrador: O que é pior: o cabeça dura nem leu a Bíblia. (Chamando) Hei! Ed, volta aqui! Vem ler a Bíblia!



CENA III

Narrador: Era quarta-feira de uma preguiçosa tarde de verão.

(Entra Ed. Todo sorridente, traz consigo uma margarida. Assovia uma alegre canção).

Narrador: Naquela tarde Ed estava muito feliz.
Ed: (Retirando as pétalas da flor. A cada pausa uma pétala) Ela me ama... ela gosta de mim... ela é apaixonada por mim... ela quer namorar comigo... (é a última pétala) Ela quer casar comigo. (Feliz) Irra! Hoje é meu dia de sorte!
Narrador: Ed estava pressentido que Anabella havia desmanchado com o Juninho. Juninho? Ë que depois do Renato houveram mais três. Mas, o sofredor, digo, fiel Ed não perdeu as esperanças.
Ed: Eu tenho fé. Anabella você ainda vai ser minha. Eu ainda te levo para o altar. Eu tenho certeza. Uma certeza absoluta. Hoje você terminou com o Juninho. (Pensativo) Juninho ou Paulinho? Não, com o Paulinho ela terminou na segunda. Será que não é o Alceu? (Levando a mão ao peito) Ai! Como esse assunto me dói!
Narrador: Ed ainda tenta justificar os atos da namoradeira:
Ed: Ela só age assim porque ainda não encontrou o cara certo. Quando ela o encontrar, tenho certeza que ela namora sério! (Pequena pausa) Quando será que ela vai me enxergar?
SONOPASTIA: Telefone
Ed: (Levando um susto) Hã? O telefone! Talvez sejam notícias de Anabella. Desta vez ela terminou com o Juninho. Certeza!

(Ed leva a mão para atender a chamada. Não chega a faze-lo. Desiste).

Ed: Se ela terminou com o Juninho com quem será que ela esta namorando agora? (Resoluto) Não vou atender! Cansei de ser sofredor! Basta!

(Ed levanta-se. Da as costas para o aparelho que continua a tocar).

Ed: E se for uma boa notícia? Talvez chegou a minha vez? Oh meu Deus, que seja uma boa notícia! (Atendendo) Alô!
Voz Feminina: (Microfone) É quem?
Narrador: Uma voz feminina? O coração de Ed disparou. A língua travou.
Voz feminina: Alô? Alô? Alô-ô? Tem alguém do outro lado da linha? Xi! Achou que desligou!
Ed: É-é-é o Ed Falando! Por favor não desligue!
Voz feminina: Hum! Que voz linda você tem! E não é só a voz, o dono dela também é um gato.
Ed: (Tapando o telefone) Oh meu Deus, me ajuda a não ter um enfarto!
Voz feminina: Aqui é a Ana! Eu quero marcar um encontro com você para conversarmos!
Ed: E-encontro? Comigo?
Voz feminina: Sim, com você. No domingo, enfrente a relojoaria, às cinco da tarde! Te espero! Tchau!
Ed: Mas espere eu...
SONOPLASTIA: “Tu-tu-tu” do telefone.
Ed: Claro que vou, Anabella. (Radiante) Anabella, agora você vai ser minha. Meu dia chegou!

(Ed sai de cena).


CENA IV

Narrador: No restante da semana Ed continuou com as mesmas orações vazias.

(Entra Ed. Ele vai ajoelhando-se e fazendo uma oração).

Ed: Senhor, eu te peço que a moça do telefone fosse a Anabella disfarçando a voz. (Pensativo) Se bem que eu tenho certeza que era ela mesmo. Tenho que reconhecer que estava bastante nervoso e por isso eu não consegui reconhecer bem a voz. (Prosseguindo a oração) Amém!
Narrador: Oração relâmpago. Como se não bastasse, ainda cheia de interrupções. Acredito que ela não passou do teto. Talvez nem até ele chegou.

(Apressadamente Ed sai de cena).



ATO II

Cenário: Praça pública.

(Ed entra em cena, trazendo na mão uma flor).

Narrador: Ed chegou ao local do encontro quinze minutos adiantado. Isso era bom porque lhe daria tempo de ensaiar o que iria dizer.
Ed: (Supondo estar beijando a mão da moça) Anabella... (Tosse seco) Cof! Cof! Eu não sei como te dizer... (Noutro tom) Será que está bom assim?
Narrador: Não pensou em algo mais sério?
Ed: Anabella, Anabella, quantos namorados! Se eu não perdi as contas vinte e sete. Como você quer tem uma chance comigo desse jeito? (Noutro tom) Não está bom, melhor, está ridículo.
Narrador: Não pensou algo com um tom cristão?
Ed: Anabella, assim como Deus preparou Rebeca para Isaque, ele preparou você para mim. (Exaltado) Não, não e não! Não está bom! (Noutro tom) Deixa pra lá! Na hora eu improviso.

(Anabella entra em cena).

Narrador: Enfim, Anabella chegou

(Ed percebe a chegada da moça. Fica todo apavorado. Pentea os cabelos, ajeita as sobrancelhas).


Ed: (Percebendo a aproximação da moça) Meu Deus, ela veio! E agora o que que eu faço? (Levando um choque) Xi! Me esqueci de orar hoje!

(Anabella pára a poucos metros do rapaz. Ela nem percebe a presença de Ed. Demonstra impaciência pela demora de alguém que ela está a espera).

Ed: (Dando as costas a moça) O que que eu digo agora? O que que eu digo agora? (Resoluto) Tenho que improvisar! (Numa tosse forçada) Cof! Cof! Eu vou até ela. (Pára) Mas ela falou em frente a relojoaria. E por que que ela está na frente da loja de presentes. Bom! Talvez eu ouvi errado. Entenda estas mulheres! Eu vou esperar aqui! Ela disse relojoaria. Vou esperar aqui!
Narrador: Ué! Ed ainda não fora notado.
Ed: (Tentando chamar a atenção) Anabella, eu estou aqui! (Olhando para o relógio) Puxa que pontualidade! Ainda nem é cinco horas!

(Anabella continua sem perceber a presença de Ed).

Ed: (Dando um tchauzinho) (Com a voz meio cantada) Anabeeelllaaa! Não está me vendooo? (Observando ao seu redor) Também com todo este movimento dificilmente ela vai me enxergar. Eu vou até ela.
Anabella: (Olhando na direção da saída. Direção oposta a de Ed) Oi, amor!
Ed: (Feliz) Iupi! Finalmente me enxergou! E ainda me chamou de “amor”. Ai, meu Deus, acho que vou ter um treco!

(Anabella avança até a saída).

Ed: Hei, Anabella! Onde você vai?
Roberto: (De fora) Demorei muito?
Ed: (Estonteado) Roberto? O meu amigo Roberto?
Anabella: Imagine! Ainda nem são cinco horas!

(O encontro se dá fora de cena).

Roberto: Eu te amo!
SONOPLASTIA: Beijo.
Anabella: Eu também te amo, meu gato!
Ed: (Ainda em estado de choque) Até o meu ex... ex amigo Roberto!

(Ed dá um grito de raiva. Joga a flor do chão. E bufando sai de cena).

Narrador: Ed chorou de raiva. Desconsolado tomou o caminho de casa. De cabeça baixa ia o homem que se sentia o maior perdedor da Terra. (Noutro tom) Mas...
SONOPLASTIA: Flores do Amor (Cristina Mel)

(Entra em cena Ana Clara).

Narrador: Quando deu cinco horas em ponto, desce pela praça uma linda garota.

(Ana Clara pára no local onde estava Ed. Apanha a flor deixada pelo rapaz).

Narrador: Toda arrumada e perfumada para um encontro. Não menos bela que Anabella era Ana Clara. O amor impossível, pelo menos no julgamento de Ed. Ficou enfrente a relojoaria por mais uns vinte minutos.
Ana Clara: (Suspirando, quase em choro) Ele não veio! Que pena! Acho que ele nunca chegou a gostar de mim.

(Ana Clara joga a flor e sai de cena).

Narrador: Ana Clara se foi. Talvez para nunca mais voltar.

 


Autor: Silvio K. Nakano - silviokn@yahoo.com.br

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